26/02/2017

...um mundo aparte



O mundo de Athos era um vazio de luz. O mundo de Isa era dominado por um tonalidade áurea onde não havia lugar a sombras nem penumbras.

O sonho de Athos era sentir o calor das cores, e o perfume da luz. Athos não compreendia a razão pode detrás das palavras.O sonho de Isa era sentir a paixão da noite e melancolia do silêncio. 

Athos  sentia a dimensão da penumbra e sabia distinguir o vulto das sombras, como se fossem o prenúncio do dia e da noite. Isa era cega mas lia nas palavras o mundo de luz que a rodeava.

Viviam em mundos separados, mas havia alturas em que ambos quase se tocavam: de manhã e ao anoitecer.
Foi assim que se conheceram, e por isso se afastaram.



Na luz que Isa transportava no seu sorriso, faltava a penumbra que guiava Athos. À melancolia que Isa sonhava, respondia Athos com gestos que Isa não compreendia.Nunca se tocaram, nunca se viram, apenas gestos, palavras e mais tarde um silêncio que se perpetua.

Ele ficou cego pois guiou-se pela ilusão de compreender as cores, sem as sentir sem as tocar; ela abriu os olhos e teve a percepção que o significado das palavras não eram suficientes para compreender o que o seu olhar não captava. Viu o dia e perdeu a noite. Ele via luz, mas afundou-se na penumbra.

Talvez a história tivesse outro destino, senão existisse apenas aquela manhã ou o anoitecer. Um dia provavelmente haverá algo que falhou: tempo.

...discurso passivo

....se o poeta é um pastor de fingimentos, o escritor um contabilista de palavras, eu serei apenas um guardador de silêncios.

Os meus silêncios não serão freses, e os meus pensamentos não serão poesia. Rodam por aqui, e surgem quando tomam o forma de tinta invisível