06/09/2011

24





Desde que o Governo da nação tomou posse, ou melhor desde a primeira conferência de imprensa que o nosso “autómato” ministro da fazenda agendou, a sucessão de boas notícias inflamam os espíritos mais comburentes da nossa massa sindical. A cada medida corresponde um episódio ao melhor estilo 24. Só ainda não entendemos quem interpreta verdadeiramente o papel de Jack Bauer, pois todos os ministros actualmente (e ainda) no activo se comportam como corsários da pior cepa. Já não sei qual das medidas mais dolorosas, se a alteração dos escalões de IRS, o corte no remanescente do subsídio de Natal ou se o aumento de IVA na electricidade (não utilizo gás natural, pois não vou em barretes!).O certo é que a sucessão de más novas é de tal ordem, que já começo a antever um final ao velho estilo technicolor Gone with the Wind…e no fim morreram todos, menos a jovem Scarlett O’ Hara. Também neste particular não sabemos bem quem desempenha o papel de Scarlett mas pressinto que seja a jovem ministra da Agricultura.
Entretanto e com óbvia mudança de paradigma, o eternamente jovem Seguro desempenha agora o papel ingrato de virgem arrependida face ao caos deixado pelas forças do mal do império cor-de-rosa. É notoriamente difícil desempenhar o papel de líder da oposição quando parte significativa das medidas duras aplicadas pelo actual executivo a mando da omnipresente troika, o tornam cúmplice signatário e co-responsável em primeira mão, apesar da assinatura ser do outro que decidiu tornar-se filósofo de café em Paris.
«Em Portugal, há direito de manifestação e à greve, direitos que estão consagrados na Constituição e que têm merecido o consenso alargado em Portugal. Não confundiremos o exercício dessas liberdades com os que pensam que podem incendiar as ruas e ajudar a queimar Portugal». Não fui eu que disse, foi o actual primeiro-ministro. Isto faz dele:


1) Um opressor dos direitos dos trabalhadores e restantes afectados pelas medidas chatas em começar a estilhaçar vidros de multinacionais como a McDonalds, Hugo Boss, Louis Vouton, Calvin Klein, Armani, Burberrys e Adolfo Dominguez?
2) Um repressor dos direitos dos trabalhadores e restantes desgraçados pelas medidas impostas, de incendiarem mercedes, bmw e audi dos ministérios do Terreiro do Paço?
3) Incentivador de manifestações pacíficas aos fins-de-semana no parque Eduardo Sétimo com Tony Carreira ao vivo, sardinhas assadas, sandes de torresmos e couratos regados com cerveja Sagres?



Escolha a sua opção.


Mas não deixa de ser piada, pois um dos remoques diversas vezes utilizado pelo PSD em tempos remotos de oposição foi a aparente asfixia democrática e o medo que o anterior executivo imprimia sobre tudo e todos, a começar pela empregada do quarto do sr. Strauss-Kahn. Talvez esteja enganado mas isto tem um nome: tiques pidescos!


Querem revolução, querem tiros e puxões de cabelos? E que tal começar por fundir freguesias desavindas e “mini” concelhos, e colocar um fim á eternização de alguns caciques do poder local e regional. O Francisco Louçã numa das suas raras aparições, no alto da sua azinheira, gritava esta semana que era necessário um novo 25 de Abril. Caro Dr., estamos em Setembro. O que é premente é mesmo um 11 de Setembro á nossa moda, com muito alho e orégãos.


Mas antes, talvez não seja má ideia consultar a frau Merkl pois está visto que tal como ontem, hoje é necessário uma avalização superior.



Tenho uma dúvida e necessito de uma resposta para um enigma:
Entre uma lipoaspiração do Estado e um transplante de fígado do nosso Ministro da Saúde, qual optaria? Ele já disse que se lixe o tipo do transplante mas mesmo assim contínuo com séries dúvidas se o seu colega Gaspar não optaria antes por mudar a taxa de IVA do leite com chocolate como o seu antecessor pretendia!


Fazendo um saltinho para o assunto fétiche do Expresso, começo por afirmar sobre compromisso de honra que não pretendo integrar os quadros da Ongoing nos próximos meses, no entanto gostaria de saber aonde reside o Segredo de Estado invocado pelo Sr dos Passos, depois do pedido ultra-rápido para investigação urgente ao caso das escutas do jornalista. Estaremos nós à beira de um mini Watergate à portuguesa ou só um mero caso passional? É que se o caso era só o facto da mulher do outro ter estado casada com um bem sucedido empresário madeirense estou mais descansado! É sinal que os nossos serviços secretos estão a trabalhar para a segurança efectiva do Estado.


Decidi que não iria utilizar o termo colossal nesta crónica de bons costumes, mas o raio da palavra enche-me as medidas cada vez que olho para as primeiras páginas dos jornais ou leio os artigos de alguns spinners e fazedores de opinião. Eu diria que há muito boa gente que ainda não tirou os presuntos de cima secretária e andou pelo país a ver a miséria que abunda. E depois não me venham falar em sacrifícios repartidos por todos, ou impostos solidários. Tretas.


Alguém sabe como é que está o resultado do jogo boys do PS que saíram vs. Boys do PSD e CDS que entraram?

Hoje foi um dia bom: ainda não aumentou nenhum imposto, o último foi ontem como preços do gasóleo. Mas hoje não, apenas um hipotético imposto sobre a “fast-food”. Folclore.

Eu gostava de criticar as últimas alterações nos escalões de IRS, mas a impeditivos de ordem moral impedem-me de o fazer. Eu tal como o Américo Amorim sou um mero trabalhador.
E para terminar, se a troika “versão banca” começar a ver as gavetas fechadas à chave ou os processos “debaixo do tapete”, será que mesmo assim os nossos bancos vão sair incólumes? Esta e outras questões dicam para o próximo episódio 24.

03/09/2011





Num impudor de estátua ou de vencida,

coxas abertas, sem defesa… nua

ante a minha vigília, a noite, e a lua,

ela, agora, descansa, adormecida.


Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,

meu olhar desce aonde o sexo estua.

Choro… e porquê? Meu sonho, irreal, flutua

sobre funduras e confins da vida.


Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos…

enquanto o luar a numba, inerte, gasta

da ternura feroz do meu amplexo.



Cantam-me as veias poemas nunca feitos…

e eu pouso a boca, religiosa e casta,

sobre a flor esmagada do seu sexo.


José Régio


photo by: Luis Mendonça