16/03/2013

...uma mera questão de estabilizadores



 
…toda aquela retórica de previsões, rescisões amigáveis, são chorrilhos de quem já extinguiu todas as hipóteses de credibilidade. Quando um ministro das Finanças responde que não sabe o que de mal se passou, nem sequer imagina cenários explicativos, só tem uma saída possível. O problema agora é que, como o próprio frisou, o legado é penosamente mais penoso do que previra, e o futuro bastante mais incerto do que o presente. É demasiado redutor. Para piorar o cenário, já que o prognóstico é muito reservado, o ministro é coadjuvado por um secretário que mais não é que um nobre fidalgo de voz cândida que clama pela inocência do seu lorde, e incentiva os soldados a reincidirem nesta carnificina pírrica. No final, perante a peste negra do desemprego e do desespero, duas ou três almas cantarão vitória sobre um país perfeitamente moribundo.
Acho perfeitamente nauseabundo que em cada um dos partidos que compõem o ramalhete governativo, as vozes opositoras busquem a surdina de um programa de rádio em horário matinal, uma tirada no blog costumeiro, mas não tenham a coragem de falar alto na casa da democracia.
Curiosamente [ou não!] não deixa de ser paradoxal que nas sondagens apresentadas este fim de semana, o PSD surja a escassos quatro pontos percentuais do PS e tenha subido na bolsa de valores da opinião pública. Fica demonstrado que a quarta república atravessa os seus dias mais negros e incertos, tamanha é a descrença entre o povo e quem supostamente os deveria representar.
Como é apanágio, o Governo e a Troika já se encarregaram de reunir os suspeitos do costume para interrogatório e julgamento sumário e aparentemente a culpa do fracasso total do programa cabe a quem desenhou, ou seja, o PS. O mesmo PS que agora renega a maternidade do filho pródigo. Solução para este imbróglio: não há, ou melhor, existe mas a fat lady não está para aí virada: haircut, renegociação da taxa de juro, etc, etc. Não é uma solução inovador, nem muito menos vergonhosa ou imoral. Perguntem à Inglaterra, Alemanha e mais uns quantos países europeus se sentiram alguma dor de rins quando lhes foi garantido tamanha prova de solidariedade? Ou será que que já se esqueceram? Provavelmente dirão que os tempos eram outros, à qual eu respondo que os tempos agora são igualmente diferentes.
Entretanto, numa galáxia longe daqui, o nosso PR advoga o uso abusivo de maçãs para relançar a indústria agro-alimentar. Ando perplexo com o minimalismo e a arrogância mal disfarçada das suas últimas alocuções acerca da política governamental. É penoso assistir a um PR que simplesmente nada faz, ou se o faz é durante aquela hora que troca bolachas e chá verde com o PM na audiência semanal. Cá fora, por debaixo da ponte [o Alberto que se cuide com as despesas de pessoal], apenas clamamos por qualquer mudança, actos e acções. Estamos entediados e fartos do discurso prolixo.
Pensões. Tema na berlinda. Sou favorável ao plafonamento das pensões. Não aos “contractos sociais” já em vigor, afinal o Estado deveria ser uma pessoa de bem!! Se me perguntarem se a imposição de uma taxa sobre as pensões mais elevadas é uma boa iniciativa deste Governo a resposta é, claro que sim. Desde que seja uma medida transitória. Para as novas pensões, defendo com unhas e dentes a imposição de tectos, assim como defendo o plafonamento nas retribuições e ajudas a gestores públicos. Os suíços neste particular estão mais na vanguarda estalinista, mas o caminho que defendo poderá passar por aí. Sou contra a meritocracia subversiva das nomeações políticas. O Estado tem pessoas qualificadas, e não é necessário escolher um colega de carteira de faculdade ou o companheiro de café na sociedade de advogados para um cargo importante do aparelho do Estado. Mas esta é uma aberração típica da política portuguesa. Há demasiados bois com vontade de cobrir a vaca estatal.
Mas a aritmética é impiedosa e não são textos abstractos ou contestários que vão fazer que saímos deste buraco que construímos. Os meus pais ensinaram-me a distinguir o bem do mal, o certo do errado. Noções básicas de sobrevivência. Espero que o burro volte atrás e emende a trajectória traçada. Afinal os burros só enganam uma vez.
Por mais imaginação que tenha não estou a ver uma geração de universitários a entrar directamente para o matagal ou para a estrumeira. Também não estou a ver uma, duas, três gerações que sejam a rondar caixotes do lixo na calada da noite envergonhada em busca de comida.
Há pessoas que não sabem o que dizem, nem o que escrevem pois ainda não aprenderam a sair da zona de conforto que as protege, o resto são estabilizadores e projecções económicas.
Nota final: a Cúria que se prepare. Este Francisco I promete!

 

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