20/01/2011

...por que caminhos respiro

Quinta – feira pouco passam das oito da manhã e já a multidão se acotovela em direcção à gare. Como já vem sendo hábito, aceito de bom grado toda a papelada que me dão à entrada da estação. Quando não é a propaganda dos camaradas da Soeiro Pereira Gomes, ou a publicidade a mais uma clinica dentária com promessa de dentes cintilantes de baixo orçamento, lá estão os ajudantes do mestre clarividente, professor Mamadu. O Professor Mamadu promete tudo, desde problemas com dívidas, problemas sentimentais, dores agudas, impotência ou quem sabe prepotência [aí está um político à maneira!]. Ao contrário da maioria dos ambientalistas que acreditam na reciclagem, não tenho por hábito amarfanhar o papel e decorar o chão da rua com mais um papel. Como se aquele fosse o único ou como se não vivêssemos rodeados de lixo urbano e beatas de uma fumarola mais acelerada. Não. Ficam na mala a estagiar e depois são depositados no sítio devido: o lixo papelão. Ok sou uma ave rara, aceite de bom grado este vício imundo de não deitar nada para o chão. Continuando, em passo acelerado á velocidade do som dos carris enquanto o mar serenava o meu pensamento matinal, chego finalmente à primeira paragem e deparo-me com o primeiro matinal. Um senhor agente da autoridade, no zeloso cumprimento das mais altas directrizes, acaba de salvar a economia ao retirar um par de meias a uma vendedora ambulante! Sob o olhar incrédulo e alguma [fraca] contestação sobe em passo determinado rampa acima logo seguida de alguns colegas, qual bandarilheiro com um par de orelhas em trinfo absoluto.

Respirei o ar gélido da manhã e pensei que só podia ser um sonho.

O dia prosseguiu com sempre. Triste e silencioso. Mas nada como um bom discurso político para agitar a alma. O candidato algarvio Aníbal quebrou a rectidão e seriedade do presidente candidato Cavaco que se não fosse eleito à primeira volta, um cataclismo iria abater-se sobre as famílias, sobre as empresas e até [tremam!] os juros da dívida iriam subir!

Respirei o silêncio gélido da minha inteligência e pensei que só podia ser um sonho.

Mas nem tudo foram más notícias. Nem só de tristezas vive este nosso dia-a-dia. Afinal o Tridente já está operacional. O défice poderá apresentar um valor entre 6,8 e 6,9%. Porque tanta tristeza, se os combustíveis hoje não subiram. Porque tanta agressividade se no parlamento o deputado Sérgio Sousa Pinto [com um apelido destes poderia ser parente do sr. Pinto de Sousa] disse que a medida do governo para tornar crime público a violência escolar fazia tanta falta ao ordenamento jurídico com uma gaita num funeral?

Respirei fundo, abri os olhos e vi que afinal não era um sonho.

Photo by: Paulo Dias

Sem comentários: