22/02/2015

…the libert(y)ine

edição ne varietur

…confesso o meu desmesurado regozijo pelo facto das salas de cinema estarem pejadas de donas de casa desesperadas por romance e homens em busca do santo graal da virilidade…”dar-lhes e elas gostarem”. O Marquês de Sado decerto remove-se nas amarras do inferno dantesco onde repousa rodeado de virgens impuras, perante tamanho frenesim de armário. Outra conclusão justa que devemos retirar é que, os portugueses estão bastante mais interessados em couro e salas de tortura, do que dos “monólogos da vagina”destas novas correntes filosóficas de esquerda: Bloco, Livre, "Tempo de Avançar"…corrijam-me se cometi algum erro temporal ou se me esqueci de incluir algum.
 Parem as rotativas!
Tenho uma declaração importante:
[alguém diga ao Sr. da primeira fila para comer bolo rei de boca fechada que já ninguém suporta ouvi-lo!]
- Eu (ainda) não sou candidato presidencial…apesar de sentir um vaga-lume, uma força intersticial que me demove a não apresentar já aquilo que me vai na alma. Antes, sinto uma apreensão, pelo facto de todos os comentadores políticos, faltar ainda a trupe do trio de ataque , a Teresa Guilherme e o pessoal que apresenta os programas de entretenimento familiar ao domingo! Ah…falta também a malta do Eixo do Mal!

1984…esqueçam esse delírio do Orwell, a data correcta devia ter sido 2015. Afinal the Big Brother somos nós, que o diga o Schäuble. Eu sempre disse [se não o escrevi por estas bandas as minhas desculpas] que o FMI, o BC..perdão Bundesbank e a Comissão Europeia sofriam de delirium tremens e de um bipolarismo crónico. Se a memória não me atraiçoa, no primeiro relatório após o fim do programa vinha preto no branco que o ímpeto reformista do Governo português tinha esmorecido. Facto que é absolutamente normal, dada a proximidade das eleições [“que se lixem as eleições”, Passos Coelho cit.], pois a causa laranja sabe perfeitamente que, apesar da sede masoquista das mesmas donas de casa desesperadas e de alguns desencalhados, o garrote da austerocracia não podia estar eternamente apertado, sob pena de ficarmos de a menina da loja de ferragens, e todos sabemos quão casto e ternurento é o seu olhar. Ou era isso, ou a sangria descambava num conto de vampiros, ou numa triologia com elfos e anões, mas parece-me isso já foi chão que deu uvas.
Em vez disso, convoque-se uma conferência de imprensa e apresente-se a menina em todo o seu esplendor. Um modelo de virtudes, não no jeito do Sr. Grey [perdoem-me as libidinosas de romance de cordeal] de chicote e couro, mas numa redoma de esplendor e sucesso.



Depois, estenda-se sobre a toalha debruada de poemas florais, aponte-se com a vara e elenque-se, uma a uma, a cornucópia de números:
perda acumulada do PIB de 17,6% entre 2008 e 2013 [período preso 44 – rapaz de Massamá]
…meio milhão de desempregados
"(…) estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo"
Passo Coelho cit.
…centenas de milhares de novos emigrantes
"Quem entende que tem condições para encontrar [oportunidades] fora do seu país, num prazo mais ou menos curto, sempre com a perspectiva de poder voltar, mas que pode fortalecer a sua formação, pode conhecer outras realidades culturais, [isso] é extraordinariamente positivo"
…um senhor que tirou um curso (?) e que foi membro deste Governo
…um país mais pobre, 1% da população bastante mais rica [excluindo algumas famílias de banqueiros impolutos]
…uma dívida pública quase 130% do PIB [já descontando o pagamento antecipado ao FMI]
…uma classe média quase destruída,
…um Estado sem as gorduras, apenas osso , algumas camas vagas e uns médicos tarefeiros subcontratados a preço de empregada de caixa do Continente no serviço de urgência
… as famosas reformas estruturais consolidadas, as mesmas que vimos ouvindo deste os tempos do Passeio dos Alegres do Júlio Isidro;
Melhor? Só mesmo as 10 pragas que nos fala o Livro do Êxodo
Mas então qual será a métrica do sucesso? O número de exemplares do último livro do António Lobo Antunes que foram vendidos na FNAC? O número de turistas que entram nos aeroportos? O teor das frases de êxtase nacionalista bairrista do Portas enquanto degusta uma chouriça? Ou a contabilização dos disparates que o Alberto consegue dizer numa frase só?

O sucesso do programa, que provoca todo este orgasmo mediático em redor do olhar esfíngico da rapariga da loja de ferragens são notas soltas de excel, polvilhadas com algumas nuances sibilinas de dor e prazer para economista ler:

Vamos por partes em 2014, o Estado [eu, o senhor da primeira fila que continua a comer bolo-rei e o sr. Castella, mil perdões, apresento-vos! é o senhor que está a gravar esta conversa!] pagou 7 098,4 M€ em juros, e recebeu das aplicações 126,0M€.

Ou seja pagamos de juros líquidos qualquer coisa como: 6 972, M€
É só fazer as contas…
Já em 2013, o saldo terá ficado por 6 841,6 M€, ou seja num ano conseguimos pagara apenas mais 1,9% de juros, mais coisa menos coisa 4 a 4,5% do nosso PIB. É só fazer as contas…

Por outras palavras, quando a Cristas, o Portas e o senhor que falta sistematicamente às reuniões do Conselho de Ministros [e como tal, não segue a o diktats da retórica oficial da Lapa] andam a fazer milhas na TAP, basicamente andam à procura de 2% de crescimento da Economia que possibilitam respirar um pouco enquanto o Sr. Grey nos sodomiza com essa coisa obscena do mercado e dos ratings.

O sucesso também pode ser dirimido olhando para os números da perspectiva dos olhos vendados e na posição de quatro:

O Estado, que agora descobriu que a pílula e a contracepção são inimigo juramentado da economia [segue-se a revisão da lei da interrupção voluntária da gravidez? Ou ainda vamos andar entretidos com a temáticas da causa homossexual?] tem um grave problema, que aliás foi detectado nas análises estatísticas da fecundida do período 1960-1980 mas que foi continuamente ignorado por sucessivos governos de esquerda e direita:


Estamos cada vez mais velhos como o Velho do Restelo, e afinal o problema não estava na exibição do Império dos Sentidos.

Como se não bastasse a taxa de fecundidade ser residual, milhares de jovens são confrontados actualmente com a necessidade de sair rapidamente do país. Isto apesar do Pedro jurar a pés juntos que nunca ninguém disse para saírem…

Olhemos para a folha de excel, mas sem a venda nos olhos:
Dados relativos ao período 2008-2014
2008
2014
Variação anual
Contribuições Seg. Social
13 082 M€
13 658 M€
+0.7%
Pensões pagas Seg. Social
12 818 M€
15 457 M€
+3.2%
Contribuições Cx. Geral Apos.
2 298 M€
5 018 M€
+13.9%
Pensões pagas Cx. Geral Apos.
6 079 M€
8 503 M€
+4.0%
Contribuições SS+CGA
15 380 M€
18 676 M€
+3.3%
Pensões pagas SS+CGA
19 528 M€
23 959 M€
+3.5%
É só fazer as contas…
O saldo tem aumentado nos últimos anos em cada ano, e nem todas as milhas no cartão Vitória serão suficientes para ultrapassar a força dos números.
Solução: Simples!
Aumento do IRS condimentado com umas notas de poeira para ludibriar os contribuintes com benesses fiscais e carros de alta cilindrada. Uma máquina fiscal persecutória e com laivos de laxismo nalgumas elites económicas. Despedimentos encapotados de requalificação e outras manobras de semântica abrasiva et voilá!
Aumento da receita, desde 2009, a uma taxa anualizada de 3.9%:
 - IVA cresceu à taxa de 3.9%
 - IRS cresceu à taxa de 7.5%,
 - IRC decresceu à taxa de 0.1%

De facto o país está bem melhor, que o diga a rapariga da loja de ferragens. Só não sabe quem não experimenta pelo menos uma vez! Pagou com o corpo, mas sentiu o prazer na dor. Moral da história, o Dominique Strauss Kahn tinha razão: elas desconheciam que eram pagas para fazer aquilo.

O corpo é o templo onde a natureza pede para ser reverenciada.

Marquês de Sade

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