11/10/2010

...um olhar diferente

...aqui também continua a chover, mas existem muitas forma de ultrapassar estes lampejos de outono envergonhado. Como ficar em casa e fazer zapping entre um qualquer canal português é meio caminho andado para nos afundarmos-nos em conjecturas e prognósticos sobre um possível, eventual, desejado, patriótica ou descabido chumbo do Orçamento que ninguém conhece, nada melhor do que acordar cedo e sentir o doce trago amargo da maresia, nado da fúria e ímpeto do mar que sacode a nossa costa, e outros incautos que gostam de jogar com o infortúnio. Ler o jornal (mesmo sendo o artigo do M Sousa Tavares, que quixotescamente luta contra os moinhos de vento do novo acordo ortográfico, e muito bem refira-se!) não deixa de ser um atrevimento que nem nestes dias me apraz provar. Sente-se e demasiado foco sobre um documentoque atropela os anseios e amarguras de toda uma classe que não sendo a solução do problema, é por entreposta dúvida a causa do problema, pelo menos para alguns, ditos esclarecidos.
Como se a sentença pelos pecados não praticados fosse a absolvição daqueles que do outro lado da barricada atiram a primeira pedra. A "César o que é de César" disse um dia um conhecido profeta da nossa praça, depois de confrontado por um grupo de sindicalistas fariseus. Por ventura, não esperava ele que o este nosso César cura-se de nos aliviar a bolsa com o mesmo ímpeto com que massacra os mais necesitados. E porquê continuar a apostar num semi-deus que mais não fez que continuar a caminhada desta jangada de pedra rumo ao desconhecido. Já nem o mar salgado nos poupa, nem as tágides nos encantam. Pasme-se, nem  o Velho do Restelo, que bem procurei ontem na bicha dos Pastéis de Belém ousa pronunciar-se sobre o destino desta nau. Ao folhear o jornal, leio nas entrelinhas este  auto da barca do inferno, vislumbro um Don Anrique que passeia toda a sua vaidade e arrogância e que deixa um povo na miséria. Vejo um pais de amadores de perdiz, em que nem a justiça escapa à selectiva estrefe do triste fado. Também em 1755, nessa Lisboa de fausto de uns e miséria de outros, as igrejas sucumbiram com o peso dos crentes, quando mesmo ao lado, as prostitutas se salvavam. Que obra de misteriosa e profana vontade divina é esta que condena justo e perdoa o pecador. Também nestas horas me interrogo sobre a justeza das medidas, da justeza dos actos e de algo mais preocupante. O que aconteceu, para termos chegado a este ponto, quando nem as Tormentas se vislumbravam no horizonte, ou o marinheiro assim o julgou!? Que meirinho do mar é este que surge do nada e que a todos quer libertar. Que novas cartas de marear traz no alforge, que novas terras pretende ele alcançar?...demasiadas perguntas, poucas ou nenhumas respostas. Tivesse eu uma bola de cristal, seria logo consumido pela fogueira da inquisição.
Hou da Barca, tendes por i algo melhor pra nos ofertar?...

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