06/04/2012

...primavera árabe


Começo com uma frase perturbante do Orwell…During times of universal deceit, telling the truth becomes a revolutionary act

E a verdade é esta…ainda que com alguns lapsos…

..e eis que de repente até o pobre Pessoa foi vilipendiado na sua dignidade estática durante aquela conturbada arruada primaveril. Conta-se que, apesar de ostentar uma máquina fotográfica e o respectivo copo de bagaço, os Srs. agentes continuaram a arrear como se de um simples incauto cidadão se tratasse. Urge frisar que,sempre de uma forma adequada e proporcional á grandeza da personagem. 
Com mais ou menos bastonadas, aparentemente a nossa primavera árabe esgotou-se nas ruelas da Baixa-Chiado, sem vítimas a lamentar, a não ser um pequeno grupo de jornalistas e meia dúzia de pombos que nessa altura por ali procuravam migalhas de tostas mistas. Aguardam-se novos desenvolvimentos.

Notícia de última hora. Foi identificado o agente causador de todos os males do mundo. Proceda-se à abertura de um inquérito rigoroso, para o cabal esclarecimento dos factos e proceda-se de imediato ao respectivo processo disciplinar.

Hoje ao acordar fui a correr ler o jornal diário de casa de banho na esperança [vã] de descobrir mais alguma OPA. Não deixa ser curioso que numa conjuntura económica em que o emprego virou mistério mariano, e os despedimentos aumentam na mesma proporção que o politburo alivia o cinto de castidade da lei laboral, que haja uma verdadeira reacção descontrolada em termos de fusões e compras de fim de semana na bolsa de Lisboa. Diria que este sim é um sinal do espírito santo directamente para os mercados, e não uma vaga de novos-ricos de Luanda a fazer compras na avenida da Liberdade. Haja fé.

Por falar em fé, e dada a santidade do dia que hoje se comemora, lá em baixo no torreão da igreja, o sino não dobrou perante a certidão de óbito do modelo social europeu, morto às mãos do banqueiro Mário Dragui. O mesmo encontra-se a monte, mas as autoridades policiais estão no seu encalce. Nós bem sabemos como as nossas autoridades policiais são excelentes a recapturar gandins! Ele que se cuide. Ele e mais alguns deputados arrivistas da bancada socialista.

Continuando na senda de crimes hediondos de natureza económica, o nosso Governo acabou mesmo por assassinar a última esperança de parte significativa do seu staff, ao adiar para 2015 o pagamento gradual [calmo e sereno] do 13º e 14º mês. Fazendo jus ao lapso do ministro Gaspar, o PM reforçou uma tónica sibilante no gradual, como fazendo crer que o lapso de tempo entre o imediato e o concretizável poderá espraiar-se ao logo do próximo decénio. Um pouco à semelhança daquelas obras temporárias que permanecem nos registos do património arqueológico como definitivas. Eu diria que este eufemismo de linguagem do PM, juntamente com a sua obstinada vontade de mudar tudo a qualquer preço [doa a quem doer] realça em primeiro lugar uma incontornável falta de sensibilidade pela situação actual de muitas famílias. Isso, e a manifesta incapacidade do ministro das finanças em entender o dito mistério do emprego em Portugal, agudizam a minha percepção que falta qualquer coisa de substantiva a este governo.

Tendo ainda presente o nosso camarada Gaspar, os meus sinceros agradecimentos por obrigar aquela jovem senhora da mercearia a adquirir uma caixa registadora com um software informático certificado estupidamente dispendioso. As poucas empresas de informática do ramo rejubilam perante o maná que dos céus lhes cai. Entretanto na prateleira das preocupações menores, mais uns quantos processos de milhões de impostos por cobrar prescreveram por inabilidade do mistério das finanças.

Ao contrário do que andavam por aí a clamar os arautos da desgraça, não é verdade que a MAC e mais umas quantas urgências hospitalares na área metropolitana de Lisboa e mais além vão fechar. Simplesmente está em discussão o reordenamento e redistribuição das equipas clínicas…pelas duas únicas urgências que ficarão activas. Valha-nos S. José Santa Maria. Porque do mistério da saúde, apenas viroses e alergias de época

Ponto final parágrafo. Com o fino propósito de cortar na despesa corrente e em face de ao almoço apenas ter sido possível despejar uma malga de vinho, e não uma garrafa de Bafarela 17 que guardo religiosamente para uma oportunidade menos santificada, venho nestes propósitos anunciar que voltarei, após o borrego ter passado pelo forno pascal. Nessa altura, com ou sem lapso, voltarei a anunciar mais incongruências desta vida ao sabor das letras que os meus dedos encontrarem.

“Não há dúvida que a memória é como o ventre da alma”
Santo Agostinho

…o povo não é tolo e os lapsos e enganos não se esquecem tão depressa.

Uma Boa Páscoa.

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