25/02/2018

...subida ao Monte Tabor



…a felicidade é como o mercado accionista, tem altos e baixos. Por vezes para nos abstrairmos da realidade temos que nos transfigurar e subir bem alto, quase aos píncaros para lá pudermos contemplar a beleza em toda a sua plenitude; no instante imediato em que corremos a cortina da imaginação e abrimos o olhar precipitarmos no mais obscuro abismo e tudo se dilui numa névoa gélida de silêncio.

Subir sempre mais alto, apesar de ser um convite ao sacrifico, é aparentemente algo que o Homem busca desde os primórdios da Humanidade. Subir ao alto, é o trajecto que conduz a uma sensação de poder, um lento traveling em busca do inalcançável. E não há nada que nos demova quando se trata de satisfazer algo que nos motiva ou nos apraz. Já não falo da busca pela Lei ao alto do Sinai, a manifestação da omnipotência no Tabor, ou mitologia helenística em redor do Olimpo. Trata-se apenas de estar num plano superior, um momento fugaz em que nos superamos um buzz de adrenalina que nos ampara para a queda na realidade que se segue, quando no dia seguinte observamos a cotação da criptomoeda que imaginamos significar a encarnação perfeita da medida da nossa felicidade.

«(…)
If you can keep your head when all about you are losing theirs
If you can wait and not be tired by waiting
If you can think - and not make thoughts your aim
If you can trust yourself when all men doubt you
Yours is the Earth and everything that's in it. »

Rudyard Kipling (1895)


Há vários anos quando o Governador do Banco de Portugal aplicou a extrema-unção ao universo Espírito Santo, um coro de anjos celestiais e querubins entoou cânticos de louvor pelo fim de um pesadelo que ensombrava a estabilidade financeira e ia contra o então propalado interesse público. Muita tinta já foi derramada sobre o assunto, muito ainda há-de preencher manchetes de jornal e livros, mas um facto é indesmentível: o Fundo de Resolução, neste momento, não está dotado dos meios financeiros para recapitalizar o Novo Banco (destroço do antigo conglomerado financeiro) face aos prejuízos que se advinham no fecho de contas de 2017. Resta somente o apoio estatal já previsto no acordo-quadro. Mesmo não carecendo de financiamento externo (recurso aos mercados), só um idiota não acreditaria que isso não tem impacto na dívida pública.
O aftermath da resolução não é culpa do actual Governo, mas convenhamos, no fim são alguns milhões que seriam utilizados de forma bem mais interessante para o País, por exemplo, na diminuição da dívida pública que em termos nominais, não pára de aumentar 




(Foto: Doug Churchill)

«Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem
corroem e onde ladrões escavam e roubam mas ajuntai para vós tesouros no céu,
onde nem traça nem ferrugem corroem e onde ladrões não minam nem roubam:
Para onde está o teu tesouro, aí estará o seu coração também.»

Mateus 6

… subir ao Monte Tabor é relativamente fácil, já entender o conceito está apenas ao alcance daqueles que conseguirem libertar-se de todas as amarras.

Sem comentários: