25/07/2020

..uma questão de gosto


... a democracia não está uns segundos mais próxima da órbita do perigo só pelo facto de deixarmos de ter os debates quinzenais na AR. Pelo contrário, basta ter estado atento ao último para entender que o modelo foi erodido com o tempo e deixou de fazer qualquer sentido. Num aspecto quer PSD quer o PS têm razão: é mesmo necessário preservar o que resta da dignidade da AR perante a opinião pública.
O cerne do problema talvez seja outro: a asfixia em termos de qualidade dos tribunos que elegemos. Talvez tenha sido um azar temporal ter acompanhado desde muito novo, grandes debates, antes e depois dos governos do Prof. Cavaco Silva (paladino da representatividade da AR; com uma pitada de ironia). Não vale a pena elencar nomes de ilustres oradores que por lá passaram, pois, a história já se encarregou de os colocar na prateleira respectiva -vulgo arquivo histórico, em zona com temperatura e humidade controladas.
Para quem gosta de cantares ao desafio e lutas de galos, o modelo actual assentava que nem uma luva, ainda que por vezes tenha resvalado para o lado do romance como foi o pretérito. O tempora! O mores!
Mais do que o escrutínio - essa palavra tão amada, mas que depressa se tornou vaga, os debates quinzenais raramente confluem em algo palpável ou útil para os eleitos, tendo-se tornado de forma abusiva – maxima culpa – uma coreografia de soundbytes e jingles de noticiário para deleite de comentadores.
Talvez fosse hora dos senhores deputados fazerem um acto de contrição pelo mau desempenho, e quiçá talvez um dia descubram que o problema do modelo não era o facto de obrigarem o PM e restante executivo, a maçada de se deslocarem ao hemiciclo para serem confrontados com uma rajada de questões (todas elas eminentemente cruciais para o destino da Nação), mas o simples facto de as respostas , raramente terem o nível que se exigia comme il faut e no final do debate juntos, se encaminharem para um merecido repasto, como se nada se tivesse passado. Quando a argumentação é má, o esforço da contra-argumentação será inevitavelmente mínimo - a pegada ecológica agradece.
Para os autos ficam alguns debates (poucos) desde que o José Seguro teve a idiota ideia (com o devido remoque para o senhor PM) de os acrescentar ao regimento. Aguardamos com redobrada expectativa os (co)mensais sectoriais para calibrar de novo a qualidade da ementa parlamentar.   

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