04/11/2007

...hoje ouvi o encantador de tesouras


"...olha o amolador!
vai chover!"

...há muitos anos que não ouvia aqueles acordes da gaita de beiços!
Sorri, porque lembrei-me dos meus tempos de criança.
Sempre que o ouvia, corria para a janela. Sempre me fascinou o homem franzino, com pele ressequida do tempo e das engenhocas que trazia em cima da bicicleta. Ele eram guarda-chuvas, ele eram facas, tesouras eu sei lá. A pedra de esmoril e o engenho resolviam qualquer problema por mais complexo que fosse. Depois ia-se embora depois de agradecer os tostões do ganha-pão.
Hoje em dia, vai tudo directo para o caixote do lixo. Termos como arranjar, consertar não estão em voga, senão para bens mais dispendiosos. Ninguém afia as facas...a não ser os talhantes, é certo!
Passaram-se décadas mas ainda se veste da mesma maneira, com roupa que mata o frio também não deixa que o calor entrar. Usa uma bóina cinzenta, velha ,de pala suja de tanto a ajeitar na cabeça, enquanto executa os trabalhos de afiação, um casaco da mesma cor,largo e comprido, de ombros descaídos,que certamente deveria ter sido feito para outro corpo, uma camisa grossa de xadrez e umas calças largas, atadas à cintura com um cordel.

E lá foi ele ao ritmo daquela balada, sempre com uma toada calma, em cima da sua bicicleta...

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