30/08/2009

...soap on a rope

...musicas de verão com a/c ligado!!

..behind the green door & outras lascas

...escrevo estas linhas na companhia de um martini rosso com hortelã e gelo picado & a sonata para violino em G maior de Ravel

6ª feira

…depois de descer a rampa da estação, uma olhadela para a primeira página do Sol e eis uma cara insuspeita e uma notícia sibilina: aparentemente um ex-ministro do PSD cujo apelido pode ser utilizado para condimentar pratos igualmente vulgares como lombo de porco assado, teria escondidos numa porta semi-
oculta na casa de banho, documentos e notas importantes de um banco [no qual, apesar de nada se lembra e pouco teve conhecimento!] do qual foi accionista e administrador, e agora presumivelmente culpado, ie arguido no processo. Por detrás desta porta sabe-se lá que mais prazeres se ocultam.
Nós os comuns mortais, aqueles que trabalhamos sem ser para o bronze ou outra liga pechisbeque de mesmo ao fim de semana, geralmente guardamos o papel, ou na casa de banho do armário, ou na cozinha[aqui, geralmente na prateleira mais alta para dificultar o acesso!]. Sendo nós estereotipados misérables, no máximo utilizamos papéis letrados na limpeza dos vidros e daqui a algumas semanas, no aconchego das quentes & boas.

5ª feira

..não dormi a pensar na apresentação do programa do PSD que tantas linhas e comentários tem suscitado por parte de todos os quadrantes, mas ao final do dia, fiz uma secante às 38 páginas. Estava com alguma curiosidade para ver o que se aproveitava e cheguei ao desapontamento de seleccionar meia dúzia de linhas que no fundo mais não traduzem que uma mera folha A5. Comparando os dois programas do PS e PSD, o que os separa é o formato, o tipo de letra e as formas verbais. De resto, a oeste anda de novo. Talvez com os debates e com a chegada do novo programa dos nossos Gatos a coisa anime, pois nem o arregaçar de braços do camarada Jerónimo parece animar as hostes. Também é certo que estamos no dealbar da campanha para as autárquicas, mas pelo aspecto dos cartazes que poluem as rotundas e cruzamentos aqui da villa, e pela falta de apelos concretos e ideias, estou em crer que vai ser morna como uma noite de fim de verão.

4ª feira

As quartas feiras são por norma dias complicados pois o zénite da semana é atingido numa altura em que já se pensa no ocaso da semana,. Dito assim não parece ter pitada de lógica, mas quando os dias são repetitivos e nada parece ser intrinsecamente estimulante, não podemos deixar de concretizar na nossa mente uma certa nostalgia pelo fim de tarde da 6ª feira.

3ª feira

Estou com uma certa e determinada vontade de ir ver o filme do Quentin Tarantino, afinal tenho acompanhado toda a filmografia desde os tempos de Reservoir Dogs, mas este último, talvez pela proximidade semântica com Pulp Fiction, suscita-me uma nota de curiosidade. Também gostava de ir ver o Up da Pixar, ou o último trabalho do mestre Miyazaki. Salas a mais para a minha capacidade para encolher o caminhar dos dias.

2ª feira

..último dia de férias, tristeza mesclada com um misto de saudade dos primeiros dias de verão em liberdade! Dei um salto até à FNAC ver as últimas novidades que não encontrei?! Já tenho uma lista de livros para ler por entre as conversas de autocarro, e o carris à beira-mar. Planos para os próximos meses, metas a atingir até às doze badaladas do epílogo e um desejo. Um último olhar para as fotografias do meu querido mês de agosto.

...termino esta rapsódia semanal, ao som do último dos Placebo servido num copo vazio com muitas lascas de limão.
(photo by: psycho röy )

27/08/2009

...original



(...) tudo o que em nós há de original conservar-se-á tanto melhor e será tanto mais apreciado, quanto mais formos capazes de não perder de vista os nossos antepassados."

Johann Wolfgang von Goethe

...restaurador Olex!


...confesso que ainda não tive tempo para mergulhar no programa eleitoral da manela, nem o do outro senhor mas posso dizer que já dei uma espreitada nos programas do camarada estalinistas e trotskistas!...existe outro programa ainda, mas por defeito e virtude inexplicáveis nunca leio pois está demasiado a poente do meu espectro ideológico!...estou sim curioso para ver os debates, eu e mais um milibar de súbditos desta menosprezada nação! Na falta de um real soberano que nos devolva a dignidade, gostaria [ eu e a maioria da população que ainda não foi contaminada pela H1N1!] de ver algo de realmente novo e não os velhos anúncios publicitários a preto e branco do restaurador Olex e da pasta medicinal Couto! Dai o meu prémio para o melhor cartaz até ao momento para o berloque de esquerda com a metáfora dos 18 anos é muito tempo. É realmente muito tempo mas quando temos essa bela idade, não pensamos exactamente assim...e que idade!!

Ontem tive uma surpresa assaz agradável, tropecei no Facebook em caras que já não vi há seculo seculorum, as mesmas caras que me alegravam quando tinha esses longínquos 18 anos...que belos esses anos, que extraordinária era essa malta...confesso que tenho saudades desse tempo!...agora sobram cabelos brancos.

25/08/2009

..avatar

...já conto as semanas!!!...

...rebajas

...eu ontem quando vi o ar confrangedor da Lurdes, ao lado do rapaz que se veste bem, ainda pensei que tivesse acontecido alguma coisa, mas afinal nem era banha da cobra, nem atoalhados o que estavam a vender...eram mesmo os saldos na educação! Quando vi tamanhas reduções, ainda franzi o sobrolho mas depois de confrontado com o talão vi logo que se tratava de material gasto, tipo aquelas camisas que ninguém pega e que nesta altura parecem ser uma excelente escolha..mas depois ficam para a traça despachar no guarda-roupa. pena não ter visto também os secretários de estado, esses verdadeiros assadores de frangos assados, calejados em reuniões com sindicalistas cruéis, verdadeiros representantes da classe operária. Faltaram os ovos e os apupos da praxe, nem um manifestante, bandeira cartaz insultuoso ou megafone com ordinarices que só a malta acima do douro sabe soletrar...foda-se! por momentos fui enganado mas depressa olhei para a nova colecção e pensei melhor!! Nem calças amarelas com riscas azuis, nem sobretudos laranja com rosas vermelhas, o que lhe fica mesmo bem sra ministra é mesmo um bom par de patins e para o homem do microfone, espanta-me não vê-lo na feira, tamanha é a arte!

24/08/2009

...escalada ao k2

...sair do refúgio de montanha onde são os mochos que nos anunciam a chegada da estrela da noite, e o céu nos fascina com mil e uma luzes é difícil. Mais ainda, é a percepção dos quilómetros a passarem à medida que nos aproximamos de casa! Foram três semanas de paz e tranquilidade que culminam com um ticket de portagem e um "boa viagem!". Pisar estas ruas de novo e sentir o frenesim do trânsito matinal esmorece. Mas é assim, sem isto não há balões de oxigénio nem chás dançantes para nos fazer sentir as saudades. Perguntaram-me se tinha gostado do Minho...esbocei um sorriso! Gosto desde a alcofa, desde o menino de férias, quando me encaixotavam na "camioneta dos trabalhadores" que sai do Campo das Cebolas, sentado ao lado do motorista, num tempo em que não havia auto-estrada, em que a noite era longa, apenas recortada por vaga-luzes de pequenas cidades, por entre gente de trabalho que levava pouco ou nada no farnel, e uma pequena mala de suor estampado no rosto. Era estranho, eu pequeno no meio de gente que cantava, dormia e sonhava por entre a noite que cerrava fileiras por esse Portugal acima. Já madrugada, lá me esperava uma comitiva que me enchiam de abraços beijos e sorrisos [ainda hoje assim é! na despedida são as lágrimas que caiem dos rostos!], em frente ao café do velho Monteiro, que muitas vezes me traziam às cavalitas ou a pé, por entre caminhos que se escondiam na escuridão da floresta. Era uma comitiva, pois o neto, sobrinho - consoante- trazia nas malas tudo o que necessitava, e mais ainda aquilo que mais faltava!...Eram tempos difíceis, primeiro com candeeiros a petróleo mais tarde com o velho e enferrujado "fox". Uns anos mais tarde ficava na vila (era mais crescido, já não era o pequeno) ainda madrugada, e lá esperava em cima do muro de granito da antiga praça, enquanto chegava a hora do serviço do táxi! Ainda me lembro da cheia de ver a água a inundar as tascas ribeirinhas, da avenida quase submersa na cheia de 87...lembro-me como se fosse hoje!...amanhã quando terminar a escalada também vou olhar para baixo, e lembrar-me dos bons momentos e das boas recordações desses tempos e dos tempos de agora! e de outras estórias que ficaram por contar!...




PS: K2 é a segunda maior montanha do mundo e é reconhecidamente a mais difícil escalar!

21/08/2009

...questões de Braga e Compostela



"... e espera que passem peregrinos que vêm de Roma para Compostela, aqueles vis danados que nunca quiseram vender a alma em troca do meu condão."
antigo Livro de S. Cipriano, de N. A. Molina.

20/08/2009

...olhar


...e assim se passam estes dias, num misto de alegria estampada no rosto, pela subtileza da bonomia destas gentes e com a ténue sensação que muito mais há para reviver. Ainda ontem, na praia de moledo para um café matinal com a brisa atlântica, primeira paragem de um périplo ao longo do rio miño que os dois povos une. Paragem em cerveira e para lá da ilustre terra que o cervo do alto contempla, um almoço por paragens de melgaço. Serra acima, por entre a terra nua de pedra, ao longe o castro laboreiro avistámos e daí muita mais terra contemplamos. Mais abaixo, uma entrada fugaz em território galego, e um encontro fugaz com duas sombras que num sotaque mui galego nos avisavam que para além do caminho, era o fim do mundo. De novo em rota certa, dos espigueiros do soajo, serra abaixo até aos arcos que o vez mergulha, e de novo sem que a noite se atrevesse a acabar o dia, nova subida até às poças que o monte inunda. Amanhã, talvez novo relançe sobre as margens do lugar de ponte que a rainha fez vila, e quem sabe um último olhar numa qualquer rua...

18/08/2009

...na mesa a 3


...enquanto esperávamos pacientemente por uma oportunidade de captar a atenção. Por entre um café, dois dedos de conversa douramos a nossa espera com olhares e instantâenos na esperança de refugiar um sorriso, ou uma quadra que aqui e pairavam pela praça.

O jogo de luzes e a ténue brisa que vinha do rio, prenderam-nos como uma âncora numa enseada de sonhos. Olhei ao longe e lembrei-me do velho retratista que nos fazia ser maiores, em cima do cavalinho de veludo, nos idos anos 70 na praça do Rossio. Era Natal, e para além das luzes, dos brinquedos do Grandella e dos grandes Armazéns do Chiado, havia sempre um ida à pastelaria Suíça, a correria atrás das pombas no praça dos Restauradores e a mítica descida da Rua do Carmo ao som da eterna canção de Lisboa. Era esse o nosso fado.

É desta maneira romântica que ainda hoje vejo os nossos retratistas de rua...pena foi mesmo a memória ter ficado na mesa que nos acolheu...

...o tempo que já passou!

..como diria Bertrand Russel nada é tão fatigante como a indecisão. E sem que nada fizesse supor, nem mesmo a eterna luta dos dias de verão que mingam à medida que a lua se eleva no horizonte estrelado, e últimos grãos de areia do tempo se esgotam ao ritmo do pêndulo das horas que já passaram, assim as minhas férias se consomem!

A partir daqui, cada segundo é uma busca para a eternidade, cada olhar é uma miríade de sensações últimas, cada passo um destino sem rumo certo...

...na rua onde te encontro

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo
o ar que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny, in "Pena Capital"

16/08/2009

...o sino que já não canta

...e a noite acende o velho candelabro de petróleo que ilumina os astros que cavalgam em constelações que o céu reflecte, como um espelho imenso de escuridão ao som da sinfonia Lux Aeterna, sob um manto de luzes que serpenteiam por entre a brisa que a noite trás. Aqui fora apenas o som do vento que passa e o sino que já não toca a primeira hora da noite, som esse que as gentes apagaram da memória dos velhos que outrora todas as horas cantavam até ao raiar da aurora.

15/08/2009

...no tempo em que não havia túlipas

…ainda não chegou a primavera para cobrir os campos de com um manto de túlipas, mas ainda assim, existe uma flor que desabrocha do longo sono e iluminam com uma paleta de tom albo luzidio , os campos verdejantes que o sol aquece nestas terras que a rainha santa quis erguer nas margens do anfiteatro banhado pelo rio.

São rosas senhora! são rosas que o vento suão trouxe das cálidas paragens de outra cidade banhada pelo rio, que a saudade canta por entre as ruas e ruelas de branco calcáreo. São notas de ansiedade por ver uma flor nascer, e pela despedida que o entardecer nos faz relembrar.

12/08/2009

..where wild things are

...para incondicionáveis fãs...estilo moi!!

A não perder daqui a umas semanas numa prateleira perto de si!...

...what a wonderful world?

...parabéns Paula!

10/08/2009

...acerto de contas!

...ainda hoje estive alguns minutos a contemplar as aguarelas do D. Carlos I e dos seus dois filhos D. Luis e D. Manuel, e olhando para o que a nossa jovem respública nos tem agraciado desde 5 de Outubro de 1910 questiono-me se o saldo ainda é positivo, ou por outras palavras se ainda vende fiado!!

Força 31!!

...os santos também dormem

...tal como sucedera no ano transacto estava um calor infernal, mas nada que demovesse o passeio (em teleférico, está claro) até ao alto da Senhora da Penha...apesar das vertigens! Depois de um excelente bacalhau servido com um não menos requintado tinto alentejano no restaurante lá no alto e com uma vista priveligiada sobre a cidade berço, na próxima paragem aguardava-nos uma pequena viagem no tempo até à arte do séc. XIV e de algumas descobertas que estão a ser desvendadas. Deleitei-me com a arte sacra mas sobretudo com o trabalho que ainda hoje se produz. A leitura de alguns registos bafientos dos primeiros anos da nossa portugalidade permitiram desvendar alguns segredos que estavam meticulosamente ocultados. Trabalho de detectives do património, que com o pincel, e com muita paciência destapam o livro da história da cidade de Guimarães. Não é todos os dias que se podem ver relíquias escondidas pelo tempo e que à custa da astúcia de alguns monges ficaram a salvo do saque dos exércitos do general Junot.

***

O sobrante da tarde, foi um passeio pelas ruas medievais de Guimarães e o inevitável fino na esplanada que o calor a isso obriga. Enquanto, folheava o livro da história em cada janela e em cada canto da cidade, em cada loja, senti os acordes da guitarra portuguesa do barbeiro de Guimarães [qual barbeiro de Sevilha !], o cheiro do couro trabalhado na loja de sapatos feitos à mãe, das cavacas cujo cheiro saia da padaria, mas enquanto cada poro suava as estopinhas e a sede secava ao som da água de cevada, os santos descansavam no seu prosaico sono celestial embebidos pela beleza da talha dourada e a luminosidade que o vitrais ofereciam aos frescos da igreja. Afinal os santos também dorme...e a nós ainda nos espera um longo caminho de regresso ao presente.

...pequenos nadas!

...my favorite things are petits riens!

...bom dia!

08/08/2009

..meu querido mês de Agosto

..meu querido mês de Agosto! Pedimos desculpa pelo intermezzso voltamos já de seguida vamos até ali sentir o calor da festa c'a banda está com a pedalada toda!!...e quem sabe comer uma fartura!

...in memoriam

...foi das poucas pessoas que soube fazer rir, a mais nobre das artes!

...cidade do sonho

Sofres e choras? Vem comigo! Vou mostrar-te
O caminho que leva à Cidade do Sonho...
De tão alta que está, vê-se de toda a parte,
Mas o íngreme trajecto é florido e risonho.

Vai por entre rosais, sinuoso e macio,
Como o caminho chão duma aldeia ao luar,
Todo branco a luzir numa noite de Estio,
Sob o intenso clamor dos ralos a cantar.

Se o teu ânimo sofre amarguras na vida,
Deves empreender essa jornada louca;
O Sonho é para nós a Terra Prometida:
Em beijos o maná chove na nossa boca...

Vistos dessa eminência, o mundo e as suas
[sombras,
Tingem-se no esplendor dum perpétuo arrebol;
O mais estéril chão tapeta-se de alfombras,
Não há nuvens no céu, nunca se põe o Sol.

Nela mora encantada a Ventura perfeita
Que no mundo jamais nos é dado sentir...
E a um beijo só colhido em seus lábios de Eleita,
A própria Dor começa a cantar e a sorrir!

Que importa o despertar? Esse instante divino
Como recordação indelével persiste;
E neste amargo exílio, através do destino,
Ventura sem pesar só na memória existe...

António Feijó, in 'Sol de Inverno'

07/08/2009

...grande galo!


...hoje começa a festa aqui da aldeia! Daqui a uma hora os festeiros vão acordar as criaturas que ainda pairam no sono profundo, com meia dúzia de foguetes que para além de estremecerem o silêncio da manhã, vão assustar o galo que insiste em afugentar-me o sonho antes de este terminar...

(PS: tenho que agradecer o facto de o meu vizinho ter colocado o galinheiro aqui bem perto!! coincidências! mal sabe ele que a brincadeira está em contagem decrescente!!espera-lhe um pequena surpresa!!)

***

...depois de ontem ter mergulhado no Gerês, e passeado pela luxuriante Mata da Albergaria, sigo hoje até à augusta Bracara...para lá do alto dos seus sacro-montes admirar as profundezas e cheirar um pouco de história. Adoro a traça arquitectónica medieal, o barroco da igrejas, o cheiro da cidade, o burburinho, adoro caminhar por entre a ruas e ruelas, o Arco da Rua de Souto, os recantos os demónios esculpidos no granito da Sé...e de me sentar na esplanada do Café Vianna enquanto caminho com o olhar, por outras paragens.

***

..amanhã outro dia será, mas provavelmente andarei em busca de garranos lá em cima no alto, em Luilhas ou quem sabe num pic-nic improvisado!

06/08/2009

...ele corre serra abaixo

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.


Fernando Pessoa

05/08/2009

...chávena de café

...uma das coisas boas desta terra, são as pequenas peripécias que sucedem aqui e ali. São pormenores insignificantes mas que tornam a vivência por cá (infelizmente curta!) mais interessante. No primeiro dia almoçamos num restaurante, em que por exemplo tinham multibanco, mas atente-se só não dava para cartões estrangeiros!...assegurei a emprega que eu era português tão legítimo como o português suave e que era mais verde que a alface. Hoje enquanto vagueava por entre as lojas, casas de ferragens e outros locais de culto, neste país e nos arredores daqui ao lado, finalmente descobri uma cafeteira para fazer café (apesar de a bica por cá oscilar entre os 0,45/0,50 €! sabe melhor fazer em casa! sobretudo ao pequeno almoço!), na minha missão acabei de dar de caras com um botequim simpático que para além das batatas, cadernos escolares e o queijo fatiado também tinha livros. Dado que o livro que ia devorar ali fora sentado na ao som do altifalante da igreja, devorei nos transportes públicos (Barroco Tropical do José Eduardo Agualusa), comprei o Jogo do Anjo do Anjo do Carlos Ruiz Zafón. Aproveitando a bonomia do tempo de motu proprio, lancei-me à descoberta do jovem David Martín e enquanto as pás do parque eólico contavam dos minutos do tempo a passar distraí-me nas horas e quando dei por mim já erravam 218 páginas com um frenesim que não parava. O livro é hipnótico, mas soube melhor depois de servido o café numa chávenas chinesas absolutamente kitsch e umas línguas de veado. Mas o melhor estava para vir. O que é que se deve fazer depois de passar 3 horas consecutivas a ler..isso mesmo! Ir à aldeia mais próxima comprar 3 litros de mistura, e ir para o monte cortar tojo com a roçadora. Mas o dia não pára de nos surpreender! Como se não bastasse o esforço de mudar de página, já são horas de preparar as brasas porque o entrecosto não espera e os convidados para o jantar já se apressam a petiscar as tiras de presunto e queijo..e o inevitável copo de vinho.


...é isto que me atrai nas férias... um pouco de dolce fare niente!

...é só mais um para a conta!

...parabéns Sofia Hartley!

...quantos são mesmo?? tchiii tantos??

..mas olha que pareces estar na casa das dezenas!!

...e agora toca a trabalhar que é para isso que te pagam!

..amanhecer sob um céu estrelado

Amanhece frio aqui no alto da serra. A neblina vagueia por entre a milharada e o rebordo da montanha, e ao fundo já se ouvem os primeiros acordes de um dia de trabalho no campo. Acordei cedo com a cortesia de um galo das redondezas. Talvez ele tenha sido célere a ir cedo para a doce palha do seu pouso, mas nós por cá madrugamos bem tarde pois não há nada como apreciar uma boa conversa ao final do dia, nem que seja ao luar disfarçado pelas nuvens que tapavam as constelações.

- Porque é que em Lisboa não há estrelas? – Questionou-me uma pequena.
- Poluição luminosa. Esboçou uma dúvida enorme no rosto, mas expliquei-lhe sem mais demoras e de maneira simples. Entendeu logo. É a poluição que quase ninguém fala, apenas agora no Verão em que há mais tempo para contemplar o céu que tanto medo temos que nos caia em cima é que se abrem as vozes acerca da tal poluição luminosa, que não cheira, não se sente mas que nos impede de ver algo tão belo como o que nos rodeia lá fora.
Quando era novo, sussurravam-me os anciões que cada uma delas era um anjinho, e eu todo contente pois também um dia iria brilhar no céu…
No meu baú de memórias ficaram gravados as noites estreladas em Montechoro dealbar dos anos 80, lá aprendi o que era a Via Láctea, as constelações, a Ursa Maior, a Estrela Polar. Foi lá que vi o primeiro satélite (são uns pontinhos minúsculos que circulam a grande velocidade; talvez com pressa de chegar ao outro lado), ou de uma noite em particular sentado no parapeito da minha varanda em Souto, em que vi uma “chuva de estrelas” como nunca, um bom par de anos após, ainda na companhia do meu avô.

***
Finalizadas todas as démarches burocráticas e após um dia de reuniões, consegui a hercúlea empreitada de colmatar todas as situações pendentes que careciam de legalização. Dado que a segunda-feira é sempre dia de feira na vila, dediquei a terça-feira na esperança de encontrar corredores vazios e disponibilidade total para atenderem aos meus pedidos. Tarefa suplantada. Se houvesse tamanha simpatia no atendimento ao público como a que encontrei por estas terras, talvez os serviços públicos funcionassem de forma mais consentânea como seu propósito maior.

***
Última nota de relevo: o facto de abrir uma média superfície num vila pequena, não significa que as gentes fiquem melhor servidas. O pequeno comércio é inevitavelmente afectado, perdem-se mais postos de emprego do que os que se criam, abrem mais lojas de chineses, onde nunca teriam existido mas sobretudo, deixa-mos de ter produtos de qualidade para ter produtos talvez mais baratos e demasiado normalizados. Felizmente aqui na aldeia ainda há a tradição do padeiro que amanhece com o frio mas que nos traz o pão quente e saboroso, e ainda soa a buzina da peixeira que trás o peixe fresco emaranhado por entre blocos de gelo frio e sal marinho, directamente da lota da Póvoa de Varzim. Pode não ser tão barato como o da média superfície, mas é brilhante como um céu estrelado numa fria noite de verão.

01/08/2009

...até jazz!



...e cá vamos nós alegrementre país acima rumo ao rio do esquecimento e à base da tranquilidade! o Ovo Estrelado entra agora de férias!


até jazz