06/08/2009

...ele corre serra abaixo

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.


Fernando Pessoa

1 comentário:

Sofia Carvalho disse...

Aqui está um poema do nosso Ricardo Reis, apesar de não ser dos meus heterónimos preferidos, tenho que confessar que fico sempre deslumbrada com este poema. A foto está em perfeita harmonia com o texto, presumo que seja da tua autoria, está lindíssima! parabéns!!!