26/07/2010

..going



...eram sete! farto da areia que vinha de lado nenhum fechei o livro na última página e deixei o romance entretido entre os grãos que ao longo das horas foram queimando as palavras que o sol não apagou da minha memória. Eles continuavam lá em baixo a fintar as ondas que uma após a outra bailavam por entre os castelos de areia que os sonhos de miúdos viram crescer na memória de verões passados. E lá fomos em passos demorados que ficaram marcados na imensidão da erosão que o mar carregou rio abaixo. Outrora rocha dura e intemporal, agora campo de jogos , local de romance e solário para o mais incauto turista lagosta. Até ao paredão, uma tarefa hercúlea, mais ainda com os finos grãos que tentam escapar à sina de ir e vir todos os dias puxados pela corrente, varridos pelo suão. A viagem é curta, uns meros 10 minutos ao som de piano que adormece o cansaço no banco de trás. De seguida, todos para o banho que o jantar já se advinha enquanto lá fora a tolha é sacudida dos pobres que se entricheiram nas fibras ou no barco de plástico. Fui buscar o jornal, e aproveitando para regar as plantas que sufocavam pelo fino néctar doce, reli as linhas que sobravam das letras gordas.
 - "Olha sabias que ....!"
Nada. Lá de dentro apenas, o barulho da televisão que ninguém ouve, tachos e panelas que advinham o repasto que se segue, e o banho que já vai em meia hora!
 - ´" Ainda estás ai?"
Elas inventam sempre uma desculpa. Já nasceram com o catálogo das perguntas com respostas óbvias!
 "- O último sou eu!"
Entretanto tinha começado o telejornal, sofá com ele. Três notícias depois, zapping.
"-Já vi isto de manhã!"
Depois do jantar, não há nada melhor do que um saltinho para afinar as cordas e massacrar os dedos contra o aço. Uma verdadeira pauta de notas assassinadas, felizmente sem audiência para apupar e sair em ombros no meio de uma chuva de hortícolas. Sentei-me e ao lado do teclado ainda sobravam os poucos grãos que conseguiram resistir à purga.Entretanto as horas passaram, e já deitado senti o vento que os grãos levava e o sonho que a noite encenava...

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