23/07/2013

...tempo sem ser


...a preguiça é de facto uma das virtudes que me tem assolado neste últimos tempos. Não sei se é pelo advento de tempos conturbados ou pela falta desse factor escasso a que se dá o nome de tempo. Em boa verdade, o tempo hoje em dia é uma variável tão aleatória como o salto quântico de um electrão movido pela energia que escasseia na ponta da minha pena. Da mesma forma  que a minha alma se inflama num vazio crescente, assim rareia o rio de tinta que discorre em pensamentos diluídos no papel, antes mesmo de poder soletrar a primeira nota. Apesar disso, e desta inconstância serena que o tempo se encarrega de suturar, a ferida ainda me consome. E a carne sente uma vontade enorme de se soltar numa descarga orgástica, só pelo prazer de poder escrever qualquer coisa...assim haja esse ser sem ser, que dá pelo nome de tempo.
 
...enquanto isso a melodia de palavras continua a orbitar no meu ser, parada no tempo.

19/05/2013

...o paradoxo do burro


….isto hoje vai ser crú, sem links em html ou outras mezinhas avançadas. Parei para pensar no que ia escrever mas uma voz crítica ontem à noite enquanto nos digladiávamos entre umas notas de syrah e alicante bouschet incentivou-me a não tocar na ferida política ou cair na tentação que colocar mais uma uma janela com um vídeo irritante do youtube, como se meu universo de contactos já não tivesse discernido que estudar os meus gostos músicas é um exercício estranho como desenhar um diagrama de Venn. Ainda pensei abordar um tema completamente novo, como a crise, mas foi logo descartado porque a crise está para a política como a lapa numa rocha à beira-mar. Concentrei a minha atenção num conjunto de outras divagações como a beleza, a fotografia a arte, mas sobrava tempo e um vazio de ideias. Parece que de uma forma mais ou menos inconsciente tenho perdido a minha energia em assuntos que não o são, e relegado para segundo plano a metafísica do acto de pensar. Apenas pensar e deixar fluir as palavras na pauta. Há quem chama esta aparente contradição da condição humana [o não cogitar] falta de inspiração, no meu caso diria que o vaticínio é apoxia.

Ultimamente tenho andado com uma ideia um tanto ou quanto absurda. Dado que a Europa encaminha-se para uma espécie de estado de desgraça enquanto entidade colectiva, talvez fosse altura de alargar os horizontes e começar a (re)pensar em termos de Mediterrâneo. Durante séculos, a centralidade do poder económico e social estendia-se desde as margens do Líbano até à foz do Guadiana, e foi essa intensa mescla cultural que foi dando corpo à explosão de intelecto e racionalidade que se seguiu à Idade Média. É uma ideia que provavelmente choca com as fragilidades das várias interpretações da Primavera Árabe mas sobretudo com exploração ideológica de grupos fundamentalistas que florescem e parasitam a as fragilidades próprias de alguns países muçulmanos. Talvez esse seja um dos principais obstáculos. Não deixa de ser curioso que, numa Europa onde as clivagens entre países do Norte e Sul e o recrudescimento de algumas ideias nacionalistas em países que já integram a União Europeia, a simples intenção de adesão da Turquia [a porta de entrada no Oriente] provoquem ainda tantos anticorpos. É caso para pensar que os ideias humanistas e os três pilares que fundamentaram a criação da União Europeia se transformaram em relativamente poucos anos, em dois pesados fardos que o paradoxo do Burro de Buridan tentou explicar. Aparentemente encontramo-nos numa encruzilhada, e pior do que isso não existe nenhuma sinalética.

Falando de arte. Já tenho encontro marcado com a exposição que está no Museu de Arte Antiga. Talvez um dos poucos locais neste país onde tudo faz sentido. Quando discorro o meu olhar pelas paredes daqueles corredores, a minha alma oxigena-se.

Obrigado PF pelo oxigénio do teu sorriso.

26/04/2013

...engolindo swaps


…o homem não quer e pronto. Qual é a parte que não entenderam?
Não ouvi o discurso do senhor de Boliqueime, por isso vou-me pronunciar ao som de alguns acordes de silêncio para tentar não incomodar a maralha que se digladia em entusiasmos cáusticos. Sinceramente não entendo o ar de virgens arrependidas por parte das restantes bancadas do hemiciclo. Será que já se esqueceram do discurso de vitória nas presidenciais? Ou das suas intervenções como primeiro-ministro (papel que nunca conseguiu descolar) na Assembleia da República? Ele bem tenta mas o seu tento não o permite. Dêem-lhe bolo-rei que ele serena.
Mas o tema da semana, são os swaps! Tomem lá atenção e esqueçam lá o facto dos canteiros de cravos ter caído assim que o senhor de Boliqueime usou da palavra [corre por aí o rumor que o senhor já antes do 25 de Abril tinha alergia a cravos!]. Como se não bastasse um CDS no sapato do PSD, só faltava mais outro CDS (credit default swaps) para fazer comichão na breguilha da Lapa.
Mas atentemos às vantagens deste chato: numa penada mais dois secretários de Estado [um deles para gáudio e champagne da EDP!] foram afastados por motivos que não cansaço, família ou , ou…uma daquelas desculpas estapafúrdias que os governantes se lembram de acrescentar nestes momentos. Eu digo mais dois, porque não sei se repararam mas este Executivo tem passado as últimas semanas com a consistência de uma fatia de molotov já com algumas semanas de frigorífico... 
Adivinhem quem entrou desta vez? Não, não foi o homem do poço da morte nem a assistente do engolidor de espadas, mas a nossa insular Berta que há um punhado do meses, dava a entender que em matéria de boçalidade, aquele puto com mania de contratenor  nada tinha a acrescentar em termos de curriculum e muito mais a comprovar! Não me vou alongar sobre o outro secretário, agora braço direito do palácio das Necessidades que, para além de umas colunas de opinião no jornal do partido [provavelmente um admirador dos artigos de opinião do Relvas] e de uma interessante passagem pela Guia TV Cabo, certamente vai deixar uma marca indelével no admirável mundo da diplomacia.
É caso para dizer que o banco de órgãos do Executivo assemelha - se cada vez mais a um banco de suplentes de uma equipa de futebol das distritais.
Mas nem tudo foi mau esta semana: o efeito vasodilatador do chumbo do TC teve o condão de espevitar o trabalho de casa dos super assessores e meter de uma vez por todas o Governo a olhar para fora da janela. Por motivos insondáveis que nem a Santíssima Trindade com a sua reconhecida profundidade se atreveria adivinhar [nem isso nem o que o Gaspar e o  contratenor dissera ao senhor de Boliqueime naquela noite!],  descobriram agora que faltava economia á equação da austeridade. E eis que o milagre acontece: alguém retirou o Álvaro de um processo escondido da gaveta de um funcionário mais zeloso e eis que a palavra investimento surge nos feixes hertzianos do rádio a pilhas da barbearia da esquina.
Últimos reparos de uma mão já cansada de imaginar. Eu tinha o Crato com um refinado letrado nas artes matemáticas...ficamos a saber agora que também confecciona números ao gosto do paladar do ministério das Finanças! Há gostos que mais tarde ou mais cedo se revelam adstringentes, para não dizer despudoradamente irrelevantes. 
E agora, o soneto último da minha prosa. Da trilogia fantástica dos três “D” da Revolução de Abril soletro penosamente três “D” de desilusão, descrença e desamparo. Fica a lembrança a p&b do photomaton dos rostos, lágrimas e gritos de todos aqueles que na madrugada do primeiro dia do resto da nossa vida, puderam enfim dizer e cantar a palavra LIBERDADE. Abril continua amanhã…e nós por cá também.
 
edição ne varietur


24/03/2013

...second life



 …não sei se já tinha utilizado este título para um post mas achei apropriado dada a reencarnação do filho Lázaro do Largo do Rato. Sou da opinião nem na sua imensa sabedoria, o profeta Isaías alguma vez terá imaginado este regresso épico.

"Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados".

(Is 53:5)

Mas já lá vamos …
Um dia escrevi que o mal da Grécia seria o nosso mal e reafirmo agora que para lá das águas tempestuosas do Mar Branco do Meio, o bote de náufragos tem agora mais um desesperado cipriota. É claro que tratando-se de uma ilha paradisíaca, os senhores da Troika tinham que experimentar uma solução completamente inovadora. Depois de uma madrugada bem passada entre telefonemas e filmes no Ipad, o Eurogrupo decidiu que desta vez ficavam de fora os donos de restaurantes e esplanadas de Nicósia, e seriam os banqueiros lá do sítio e a nata dos ricalhaços amigos do Putin que iriam pagar a conta do hotel.

Cheguei á conclusão que o Eurogrupo e o Ecofin são uma versão mal estonada do Ocean’s 12, uma espécie de dozes apóstolos do crime organizado institucional comandados por um Ocean de “rodinhas” com um aspecto de Mr Burns (vide Simpsons). O nosso amigo Gaspar nem sei bem aonde o poderia encaixar mas apostaria tal num misto de Reuben Tishkoff (para quem não se recorda aqui fica um link) com uma certa queda para Ebenezer Scrooge.

Questão da semana: deve ou não o Eng. Sócrates trabalhar de borla no prime-time como comentador político no canal público de televisão?

Felizmente tenho um comando. Para ser sincero vou acompanhar os comentários dele, da mesma forma que sou assíduo ouvinte dos comentários do professor Karamba, da Maia e as das Tardes da Júlia. Para comentário político já me bastam o Santana, o Marcelo, o Marques, e por aí adiante. Num país em que existem fazedores de ideias para todos os gostos e tendências sexuais, mais um vendedor de cobertores na feira é sempre bem-vindo, nem que seja para animar o povo. Ainda assim confesso que estou mais inclinado a mudar para o canal Q. Para comentaristas de ocasião e números circenses já me bastam as senilidades do Belmiro, e os comentários sociais do Ulrich e mesmo assim ainda sobra uma meia dúzia de agiotas versados na nobre arte da política a sério, refiro-me aos valentins, albertos joão, isaltinos, dias loureiros e outros tantos.

Por falar em bom senso o meu garrote solidário ao deputado do PS que esta semana no Parlamento Autónomo demonstrou mais uma vez que uma coisa é ser socialista na oposição, outra bem diferente é a prática governativa…

 Entre a moção de censura envergonhada do PCP desta semana e da oposição violenta do Seguro, sobra o Ken e a Barbie. Estou em crer que já discorri sobre o tema das moções de censura com morte anunciada, por isso não vou adiantar grandes considerações. Gostava que despendessem um pouco mais tempo sobre temáticas mais interessantes como por exemplo: limitar o uso desavergonhado do Facebook e do Twitter durante as sessões do parlamento. Ora aí está um bom tema de reflexão!

Será que estamos a caminhar para a bancarrota?! Talvez seja uma boa questão a colocar aos inquilinos do palácio Ratton. Entretanto já passaram quase 80 dias desde que um conjunto alargado de personalidades colocou sérias dúvidas sobre a constitucionalidade desta ou daquela norma da Lei do Orçamento. Das janelas do palácio, não há vislumbre de fumo negro nem fumo branco. Também não há evidências que o rapaz das pizzas tenha tido entregas em horário pós-laboral!

Por vezes penso que o nosso sistema político se comportasse como a Cúria Romana, talvez os processos de aclaração demorassem um pouco menos tempo. Ora vejamos, se acrescentarmos os novos processos da auto designada Revolução Branca, mais os processos que por norma chegam á recepção do TC, ainda somos capazes de chegara a Outubro sem saber se o Menezes se pode candidatar no Porto (contrariamente à interpretação do CDS!), ou se o Seabra sempre pode ser candidato em Lisboa (conforme a pretensão do CDS!). Melhor só mesmo as eleições no meu querido Sporting.

Felizmente não voto em Lisboa, pois se o fizesse, não votava certamente em Relvas. Pessoalmente nunca achei muita piada a dinossauros, gosto de secretos de porco preto ou migas de espargos.

Pois é, Sócrates chegou. Foi morto, enterrado, extraditado para o degredo num café na boulevard Saint Germain, última vez foi visto numa reunião de administração duma farmacêutica suíça, e agora qual zombie renascido invade qual poltergeist os nosso lares programa de culinária política. O lado positivo é existir na casa de cada um de nós um telecomando. Diria mais, a linha ténue que divide do comentário e silêncio, está na palma da mão, qual bastão de Moisés.

Esta semana também assistimos ao renascimento do Jorge Coelho, o mago da propaganda socialista, o primeiro político que teve a hombridade e a coragem de se demitir por uma questão de consciência. Coisa rara nestes tempos em que a obscena sede de poder faz escola e dita a regras.
Tantos renascimentos mas nenhum salvador.
 
Nota de rodapé: não sei se alguém reparou, mas esta semana um país com 800 mil habitantes e uns quantos turistas russos recusou o plano insidioso todo-poderosa Troika Über Alles. Se eles conseguiram porque é que nós não lhes explicamos que o memorando órfão de pai (socialista) e mãe (social-democrata) tem que ser obviamente alterado para ir de encontro com as realidades sociais do nosso País?!

16/03/2013

...uma mera questão de estabilizadores



 
…toda aquela retórica de previsões, rescisões amigáveis, são chorrilhos de quem já extinguiu todas as hipóteses de credibilidade. Quando um ministro das Finanças responde que não sabe o que de mal se passou, nem sequer imagina cenários explicativos, só tem uma saída possível. O problema agora é que, como o próprio frisou, o legado é penosamente mais penoso do que previra, e o futuro bastante mais incerto do que o presente. É demasiado redutor. Para piorar o cenário, já que o prognóstico é muito reservado, o ministro é coadjuvado por um secretário que mais não é que um nobre fidalgo de voz cândida que clama pela inocência do seu lorde, e incentiva os soldados a reincidirem nesta carnificina pírrica. No final, perante a peste negra do desemprego e do desespero, duas ou três almas cantarão vitória sobre um país perfeitamente moribundo.
Acho perfeitamente nauseabundo que em cada um dos partidos que compõem o ramalhete governativo, as vozes opositoras busquem a surdina de um programa de rádio em horário matinal, uma tirada no blog costumeiro, mas não tenham a coragem de falar alto na casa da democracia.
Curiosamente [ou não!] não deixa de ser paradoxal que nas sondagens apresentadas este fim de semana, o PSD surja a escassos quatro pontos percentuais do PS e tenha subido na bolsa de valores da opinião pública. Fica demonstrado que a quarta república atravessa os seus dias mais negros e incertos, tamanha é a descrença entre o povo e quem supostamente os deveria representar.
Como é apanágio, o Governo e a Troika já se encarregaram de reunir os suspeitos do costume para interrogatório e julgamento sumário e aparentemente a culpa do fracasso total do programa cabe a quem desenhou, ou seja, o PS. O mesmo PS que agora renega a maternidade do filho pródigo. Solução para este imbróglio: não há, ou melhor, existe mas a fat lady não está para aí virada: haircut, renegociação da taxa de juro, etc, etc. Não é uma solução inovador, nem muito menos vergonhosa ou imoral. Perguntem à Inglaterra, Alemanha e mais uns quantos países europeus se sentiram alguma dor de rins quando lhes foi garantido tamanha prova de solidariedade? Ou será que que já se esqueceram? Provavelmente dirão que os tempos eram outros, à qual eu respondo que os tempos agora são igualmente diferentes.
Entretanto, numa galáxia longe daqui, o nosso PR advoga o uso abusivo de maçãs para relançar a indústria agro-alimentar. Ando perplexo com o minimalismo e a arrogância mal disfarçada das suas últimas alocuções acerca da política governamental. É penoso assistir a um PR que simplesmente nada faz, ou se o faz é durante aquela hora que troca bolachas e chá verde com o PM na audiência semanal. Cá fora, por debaixo da ponte [o Alberto que se cuide com as despesas de pessoal], apenas clamamos por qualquer mudança, actos e acções. Estamos entediados e fartos do discurso prolixo.
Pensões. Tema na berlinda. Sou favorável ao plafonamento das pensões. Não aos “contractos sociais” já em vigor, afinal o Estado deveria ser uma pessoa de bem!! Se me perguntarem se a imposição de uma taxa sobre as pensões mais elevadas é uma boa iniciativa deste Governo a resposta é, claro que sim. Desde que seja uma medida transitória. Para as novas pensões, defendo com unhas e dentes a imposição de tectos, assim como defendo o plafonamento nas retribuições e ajudas a gestores públicos. Os suíços neste particular estão mais na vanguarda estalinista, mas o caminho que defendo poderá passar por aí. Sou contra a meritocracia subversiva das nomeações políticas. O Estado tem pessoas qualificadas, e não é necessário escolher um colega de carteira de faculdade ou o companheiro de café na sociedade de advogados para um cargo importante do aparelho do Estado. Mas esta é uma aberração típica da política portuguesa. Há demasiados bois com vontade de cobrir a vaca estatal.
Mas a aritmética é impiedosa e não são textos abstractos ou contestários que vão fazer que saímos deste buraco que construímos. Os meus pais ensinaram-me a distinguir o bem do mal, o certo do errado. Noções básicas de sobrevivência. Espero que o burro volte atrás e emende a trajectória traçada. Afinal os burros só enganam uma vez.
Por mais imaginação que tenha não estou a ver uma geração de universitários a entrar directamente para o matagal ou para a estrumeira. Também não estou a ver uma, duas, três gerações que sejam a rondar caixotes do lixo na calada da noite envergonhada em busca de comida.
Há pessoas que não sabem o que dizem, nem o que escrevem pois ainda não aprenderam a sair da zona de conforto que as protege, o resto são estabilizadores e projecções económicas.
Nota final: a Cúria que se prepare. Este Francisco I promete!

 

23/02/2013

...bife no PREC


…da mesma forma que em algumas avenidas dos nossos centros comerciais existem ilhas onde os amantes da nicotina imaginam-se a fazer círculos de fumo branco para o ar, também nalguns colóquios devia existir semelhante gaiola para alguns ministros puderem repousar as sua lições de sapiência sobre assuntos nenhuns, longe das grandoladas e a salvo dos espíritos mais subversivos. Eu acrescentaria que para além disso, fosse ainda criada um gabinete de canto para o fiel jardineiro do Governo treinar a sua inigualável inaptidão para a música.
Contrariamente aos que apelidaram de atentado à liberdade de expressão, fascismo, intolerância desprezível, etc. continuo convicto que mais não foi do que um alerta, uma verdadeira e saudável forma de expressar o descontentamento de toda uma população. Se for necessário também eu entoo o refrão, já que o resto da letra não tenho presente. Assim penso eu, pensa a ministra da Justiça e pelos vistos pensa muito boa gente não conotada com a tal extrema-esquerda pulha e arruaceira.
Lá pelo facto do fiel jardineiro ter demonstrado uma despudorada cobardia política ao abandonar o palco onde ia discursar sobre o futuro do jornalismo [sendo ele um outsider na matéria] isso não quer dizer que tenha sido silenciado ou proibido. Outros colegas tiveram semelhante tratamento de charme e mantiveram a postura e a diplomacia necessária, prosseguindo com os respectivos discursos. Não querendo fazer aqui a defesa do anterior incompetente que alugou o Palácio de São Bento [cuja pesada factura ainda hoje me é acrescentada no IRS!] recordo que nos últimos tempos do seu apostolado, o fiel jardineiro e outros ditosos  não ofereceram o peito às balas populares, mas antes, deram razão à vox populi manifestamente farta do dito cujo.

“Cowards die many times before their deaths. The valiant never taste of death but once.”
W. Shakespeare

A questão que se impõe é, se também não temos direito à indignação ou se devemos observar uma pouco dignificante resignação à fatalidade que nos impõem? Também estamos fartos do fiel jardineiro, saturados de todos os lacaios que aplaudem esta louca descida aos infernos do nosso país! O que enjoa já chega.



Confesso que senti um prazer sórdido ao ouvir o ministro das finanças referir-se aos enganos, ao retrocesso das estimativas. Confesso que pasmei-me a ouvir o mesmo PM que jurava a pés juntos, doesse a quem doesse, custasse o que custasse, que não iria pedir nem mais tempo nem dinheiro. Confesso ainda o meu espanto ao ouvir o ministro da Economia falar num problema de entendimento e de estratégia do Governo face à onda de desemprego. Como mudaram tanto em relativamente pouco tempo. Quem sabe, talvez o mesmo raio divino que assombrou a cúpula da Basílica de São Pedro, tenha tido eco nos corredores bafientos de São Bento.

Entretanto em Belém o nosso PR qual Bela Adormecida acordou do sono profundo e desvendou o mistério da troca do “da” pelo “de”. Talvez seja melhor não acrescentar muito mais acerca do seu papel relevante nestes últimos tempos!

Não. Não vou aqui falar das opções sexuais deste ou daquele bispo, ou se existem as tais orgias de seminaristas nas catacumbas do Vaticano. Supostamente os anjos não têm sexo. Mas vou estar atento aos desenvolvimentos.

Nunca imaginei que houvesse tantos generais neste pequeno rectângulo.

E mais uma semana passou sem que tivesse sido abordado ou revistado por um agente das finanças em busca das facturas que invariavelmente me esquece. Ao contrário do Viegas, não vou entrar em poesia erótica, nem vou argumentar com a velha teoria do Triunfo dos Porcos. Com alguma sorte canto-lhe o refrão da Grândola e sigo em frente pois de idiotas estamos todos fartos!

Prometo que as minhas próximas palavras serão para o nosso ministro que é tão reconhecido lá fora e tão incompreendido cá dentro, mas isso só depois do 7º fellatio à Troika.

"Deixai toda a esperança, ó vós que entrais!"
Dante

photo by: New York Times

01/01/2013

...jailbreak



...o ano passado neste mesmo dia profetizei esta frase:

 "Estranha esta sensação de dúvida permanente, este pot-pourri de esperança mesclada com receio. Aguardemos serenamente o desenrolar da nossa próxima estória..."


Este ano animado do mesmo voluntarismo e firme certeza:

...faltam 365 dias para o fim! Há que pensar positivo.

31/12/2012

...last famous words


Vim agora da minha última tentativa [bem sucedida] para comprar uma bomba de confettis made in China e uns balões coloridos com um Happy New Year com hélio português. No caminho das pedras fui tomando um conjunto de notas mentais sobre a minha perspectiva pessimista realista sobre o ano que se avizinha.Chove.

Depois de um 2012 para esquecer a todos os níveis mais umas quantas sub-caves, tudo o que seja acima de mau vai acabar por ser suficiente ou mesmo aceitável, um pouco como as notas na pauta do primeiro período. Desde logo o meu acto de fé: não acredito neste OE2013 publicado hoje na surdina da azáfama das passas e do espumante rasca.  Definitivamente deixei de me rever nas projecções optimistas do Governo, sobretudo num ministro que falhou em toda a linha e num conjunto de aprendizes que todas as semanas se reúne em redor do mais ilustre habitante de Massamá.
 
 

Depois de Troika, crise e austeridade, as palavras que vamos continuar a ver pintadas nas paredes e nas bocas do mundo continuarão a ser desemprego, perda de direitos e convulsão social. Tal como o advinho Spurinna também eu alerto para o perigo dos idos de Março. A publicação dos dados do INE no boletim da Primavera, bem pode ser este o princípio do fim da epifania política do senhor de Massamá. Para o sucesso desta nossa desventura, espero estar errado.

Mas antes, já em Fevereiro vou estar atento ao dito plano de "Refundação do Estado", esse momento Artur Baptista da Silva do nosso PM. Só ainda não entendi uma coisa de somenos importância: como é que um plano que é apresentado aos parceiros como um facto consumado e presente aos reis magos da Troika envolto em incesso e mirra, mantém-se em discussão até o verão quente de Agosto?

Já nas próximas semanas, depois das férias decretadas por sua Exa. O Senhor dos Pastéis de Belém e do Bolo Rei, o Tribunal Constitucional vai-se transformar numa espécie de El Corte Inglès no Black Friday. Vai ser um ano em cheio para os excelsos juízes do Ratton, a começar com a fiscalização sucessiva do OE2013 acarinhada pelo PS, BE e PCP..e umas quantas vontades recalcadas do CDS e PSD, a revolução administrativa em curso, O IMI, entre outos fait-divers. Ainda assim, o prime-time está reservado às telenovelas Isaltino, BPN, Monte Branco, Submarinos, Casa Pia e outros tantos episódios truculentos do nosso quotidiano. No fundo a continuação do longo capítulo da injustiça á nossa moda.

Algures entre o retorno das andorinhas e a próxima Feira do Livro [se entretanto não for anulada pela CML por novas obras no Marquês], será interessante verificar se submarino azul aguenta a tormenta da agitação social abrilista. Apesar de confiar mais nas previsões das ciganas romenas do Parque Eduardo VII, estou em querer que o Caldas vai começar a escaldar antes de levantar fervura na Lapa.

Lá para os meandros do calendário há um Congresso do PS, altura em que veremos se é desta que o Presidente do ajuntamento de freguesias agregadas à força de Lisboa vence o seguro de vida deste Governo. Sim porque não é com açaimes de raiva contida ou lapsos de memória recente que este partido socialista leva a noiva ao altar. Relembremo-nos que os nubentes em causa resultaram um casamento civil de conveniência, com um padrinho à espanhola em Belém, com uma vontade irrascível de manter a relação incestuosa. 

Ainda não falei do BE porque ainda não entendi a química entre o Semedo e a Catarina. Pessoalmente gostava mais da oratória barroca do primo do outro Loução. Quanto ao PC do camarada Jerónimo só espero que a cassete passe finalmente a DVD.

2013 vai ser um ano parco em vendas sonoras. Já pouco sobra, mas ainda há a Torre de Belém, o Mosteiro da Batalha ou a  Torre dos Clérigos. Estou indeciso entre vender a Madeira aos marroquinos ou alugar o Allgarve aos Sarracenos, mas de todas as hipóteses a que me satisfaz mais será sem dúvida alguma  a concessão desses espaços de inaudita fruição e prazer, por tempo indeterminado tal como sucedeu com a ANA. Esta sim seria uma medida com impacto visível no défice público. Matavam-se dois coelhos numa cajadada: por um lado acabava o triângulo das bermudas da economia madeirense no erário público, e por outro os portugueses podiam começar a beneficiar a poupança e o aumento da produtividade em detrimento do dinheiro supérfluo gasto em vícios pouco saudáveis como passar férias na praia ou comer em estações de serviço de qualidade duvidosa sandes de leitão a preço de caviar russo.

 Ainda no subcapítulo da produtividade, para além dos supra assassinados feriados civis (ver último post), a Santa Sé deu bênção a dois autos de fé. Este conjunto de medidas de reciprocidade duvidosa vai ter como corolário…mas 1 dia de trabalho comparativamente a 2012. Nada a acrescentar em abono da medida. É bem provável que o vendedor de farturas ou a roulotte das sandes de courates serão os mais beneficiados com a medida.

Também pode ser que Abril traga boa novas e tudo o que atrás disse seja manifestamente o contrário do que presumo. Nesse caso, as minhas desculpas pelo equívoco técnico!É que equívocos destes também acontecem....

 
Mas não digam que eu não avisiei!

photo by: Ines Belkhala

...every time I say goodbye




O Ano de 2012 foi a todos os níveis memorável. Em primeiro lugar este blog teve mais visitantes e comentários do que check-in do aeroporto de Beja, por outro lado gastei menos tempo a escrever do que nos anos anteriores e não cedi à opressão do Novo Acordo Ortográfico. Por último, este blog mantém a classificação DOC 100% português sem corantes nem conservantes que é como quem diz, ao visualizá-lo está a contribuir para a economia nacional e para o equilíbrio do défice da balança comercial. Mas nem sempre foi assim.

De facto, o ano que agora termina pode ter sido o início dos piores anos das nossas vidas:

1.       Continuam a fazer de nós palhaços pagantes no circo da política caseira;

2.       Somos confrontados com declarações bizarras e assaz tristes nas redes sociais dos principais magistrados da nação: PM e PR; há que chamar os bois pelos cornos;

3.       Foi decretado o fim do 1 de Dezembro e do 5 de Outubro, os feriados mais antigos e mais significativos do ponto de vista histórico;

4.       A receita bimby que a Troika nos impõe conduziu milhares para o desemprego, milhares para o limiar da pobreza;

5.       Os amigos do BPN continuam confortavelmente sentados no trono da inocência a saborear a austeridade imoral, enquanto nos centros de desemprego e no desconforto da noite, rostos de solidão e resignação choram por dias melhores;

6.       O Estado Social foi substituído pela caridade mesquinha e a necessidade de racionamento, numa trajectória evolutiva pautada por uma iníqua falsidade social;

7.       Os pobres, os reformados e todos aqueles que supostamente beneficiavam da extrema bondade do Estado, são mais hoje do que nunca, os bodes expiatórios de uma insensibilidade social nunca vista em democracia;

8.       O SNS e a Educação, sustentáculos de década de luta e reconquista são hoje um castelo de cartas ao sabor de um memorando que ninguém quer perfilhar, mas onde todos se refugiam;

9.       etc.

Muito haveria para dizer…basta sair e acreditar no que vemos, já que a realidade que nos vendem não passa de banha da cobra.

Até jazz!

24/12/2012

...um Santo Natal para todos!



1Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. 2Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. 3E iam todos recensear-se, cada qual à sua própria cidade. 4Também José deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judéia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da linhagem de David, 5a fim de recensear-se com Maria, sua mulher, que se encontrava grávida. 6E quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz 7e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoira, por não haver lugar para eles na hospedaria. 8Na mesma região encontravam-se pastores, que pernoitavam nos campos guardando os seus rebanhos durante a noite. 9O anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu em volta deles, e tiveram muito medo. 10Disse-lhes o anjo: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: 11Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, Senhor. 12Isto vos servirá de sinal para o identificardes: encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.” 13De repente, juntou-se ao anjo uma multidão de exército celeste, louvando a Deus e dizendo:
14 “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de Seu agrado.” 15Quando os anjos se afastaram em direcção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: “Vamos então até Belém e vejamos o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer.” 16Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o Menino, deitado na manjedoura. 17E quando os viram, começaram a espalhar o que lhes tinham dito a respeito daquele Menino. 18Todos os que os ouviram se admiraram do que lhes disseram os pastores. 19Quanto a Maria, conservava todos essas coisas ponderando-as no seu coração. 20E os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, segundo lhes fora anunciado.

(Lucas 2,1-20)

02/12/2012

...ai aguenta, aguenta!

…a esta hora algures em Almada, uma enorme barraca de venda de cassetes mono deve estará a fervilhar de ideologia e colectivo partidário. Sim é o enésimo congresso do PC. E este ano mais do que nunca a cassete esteve presente, não só no acto inaugural com aquele instantâneo do jornalista do Expresso, mas no discurso político. Convenhamos, a doutrina pode ser um pouco compartimentada, ortodoxo, dura, o que entenderem, mas a realidade dos factos, paulatinamente tem dado razão às teses defendidas elas vozes que ecoam daquele lado de lá da iron curtain. Já na sexta-feira a saudosa Odete citava outro indefectível camarada da causa, o Almeida Garret :
«E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?».
 Mas vamos a assuntos mais adstringentes: enquanto na Alemanha punem-se com penas de prisão os responsáveis pelas negociatas dos submarinos, por cá distrai-se a opinião pública com um julgamento sui generis em que a defesa alega que os pecados estão todos perdoados derivado ao facto de existir um novo agreement de contrapartidas entre o Estado o Grupo alemão MPC. É sempre agradável quando tudo termina em bem, não é? Mas vamos por tartes, :
  •  2 submarinos que nem sempre funcionam bem e com alguns remendos - 1.070 M€ (pagamento até 2026)
  •  Contrapartidas negociadas na altura do anterior contrato com a German Submarine Consortium (geridas pela Man Ferrostaal) – aproximadamente 1.210 M€ distribuídos por 39 projectos de capacitação e indústria portuguesa
  • Novo acordo entre o Ministério da Economia e o fundo de investimento MPC - recuperação do hotel de luxo Alfamar (Albufeira) e um investimento de 150 M€
 Quando o limite da generosidade alemã esbarra na intransigência do actual Governo, podemos estar seguros e confiantes na defesa da (des)causa pública.
 
....para dar continuidade à submersão demagógica do negócio...
 
...durante o zapping que habitualmente faço durante os noticiários indigestos da hora do jantar em família (um dos luxos que ainda conservo) pareceu-me ouvir o (ainda) PM a referir-se a qualquer coisa semelhante a co-pagamentos na educação. Pasme-se, o corte da tal refundação, reformulação, o diabo que o carregue da reforma do Estado Social, iria ser inteiramente direccionada para as prestações sociais e para as pessoas, já que segundo os dados confirmados e sublinhados pelo INE, 70% da despesa total do Estado português incide sobre essas rúbricas.
 
Não digo que a novidade do PM tenha sido uma cluster bomb, ou uma blitzkrieg, mas os soundbytes já fizeram moça nem que tenha sido pela recusa frontal por parte do ministro Nuno Crato no que diz respeito ao ensino básico. Quanto ao ensino secundário e quanto ao SNS, já tenho as minhas dúvidas que as fatwas inscritas na redacção da Constituição particular do Governo, não lancem as bases para um regime fundamentalista alicerçado na educação e saúde só para alguns. Será que são necessárias mais crianças a desmaiar nas escolas com fome? Quantos agregados irão suportar o pagamento de propinas no ensino secundário, para além dos avultados custos que isso acarreta actualmente!!
Mas não deixa de ser curiosa esta perspectiva simplista & simultaneamente ignorante por parte da teocracia que (ainda) nos governa. Quando o discurso da oportunidade para aproveitar a crise, o vislumbre de uma nova oportunidade perante o facto consumado do desemprego, este novo desígnio ultramarino de exportar jovens e não jovens para outras terras, para outros mundos, passa a ser denominador comum de todos aqueles (que por agora) juram a pé juntos fidelidade ao actual establishment, refundar o Estado Social retirando todas as conquistas obtidas por décadas e séculos de luta em matérias fulcrais como a educação e a saúde, é apenas o corolário da vocação de um político menor, num país que merecia muito mais.
 Dividir para reinar sempre foi o desígnio de gente medíocre, e em última instância o prenúncio do seu colapso.
Quiz da semana:
1.       Quantos aviões aterraram esta semana no aeroporto de Beja?
  • Opção 1: <1
  • Opção 2: entre 1 a 3
  • Opção 3: >3
2.       De entre os grupos sociais, seleccione aqueles com maior probabilidade de atirarem pedras à Assembleia da Repúlica?
  • Opção 1: Estudantes anarquistas mascarados.
  • Opção 2: Estudantes anarquistas mascarados, estivadores, sindicalistas, professores, trabalhadores da RTP, funcionários públicos na disponibilidade, desempregados.
  • Opção 3: Estudantes anarquistas mascarados, estivadores, sindicalistas, professores, trabalhadores da RTP, funcionários públicos na disponibilidade, desempregados, e agentes de segurança infiltrados.
3. Qual a próxima rotunda que vai ser alvo de refundação pelo Presidente da Cãmara Municipal de Lisboa?
  • Opção 1: Saldanha
  • Opção 2: Relógio
  • Opção 3: ambas
4. Os banqueiros portugueses acham a ideia da criação de um Banco de Fomento?
  • Opção 1: Não, até ao dia 12 de Novembro
  • Opção 2: Sim, depois do dia 12 de Novembro
  • Opção 3: ambas
Por último, uma pequena observação: o membros da Troika vêm na figura do nosso ministro da fazenda uma personagem fascinante, único quiçá. Gostava que alguém me explicasse, uma medida, um facto, um número que espelhasse de forma inequívoca essa devoção. Preferencialmente fundamentada com dados do INE, como é óbvio, e não como os eufemismos e o sarcasmo das suas intervenções.
Nota de redacção: o burro e a vaca não entraram no quadro de disponíveis do Presépio, o Gaspar mantém as mesmas oferendas, mas passou para terceiro na hierarquia dos soberanos adoradores. Quando chegar à Páscoa, logo se verá se o Coelho se mantém.

11/11/2012

...por favor fechem as torneiras


“O que é que tu queres pá?” terá sido a resposta do Relvas ao cartaz do “Benvindo Dr. Relvas”. Mas antes de certeza absoluta que houve mais mimos entre entre o jornalista os guarda-fatos que acompanham o ministro. Ainda não foi desta que o Relvas se martirizou perante a opinião pública. Mas tenho a certeza que mais cedo ou mais tarde, o dito senhor vai ter o seu momento Marinha Grande, ainda que com a quantidade de armários que acompanham cada dignatário neste momento no país, é mais fácil o Sporting ganhar um jogo do que a ministra da Agricultura levar com uma Apfelstrudel na cara.

Por falar em culinária alemã, a mail alta magistrada do nosso país, vem a Portugal. Da minha parte só lhe desejo uma boa estadia, que possa saborear os nossos saborosos Pastéis de Belém, que coloque umas flores no túmulo do nosso poeta maior, e que lhe seja presenteado um faustoso cozido à portuguesa para melhor digerir a viagem de regresso. Nada me move contra a senhora, já contra aquilo que defende e o facto de não ter a memória histórica, isso sim aflige-me. Talvez tenha chegada a hora dessa senhora e os seus lacaios olharem um pouco para a história do período pós II Guerra Mundial e observar bem quem ajudou a reconstruir o que restava do III Reich. Talvez tenha algumas surpresas desagradáveis. Muito, mas mesmo muito mais haveria para escrever, mas estamos em época de austeridade e é melhor poupar na tinta. Fico-me apenas com este número: cerca de 20% da mão-de-obra alemã vive numa precariedade triste, e o milagre alemão é uma ilusão tão grande como as estatísticas económicas chinesas. A médio-longo prazo cá estaremos, honradamente sentados num sofá roto com as molas a entrarem na alma, para ver o resultado da usura alemã na Europa.

O BE escolhe este fim-de-semana, uma estrutura bicéfala para dirigir o partido nos próximos combates políticos. Apesar dos princeps senatus merecerem o meu mais profundo respeito, tenho receio que esta solução não passe de uma recriação entre tetrarquia romana e a actual situação da União Europeia. CAda cabeça sua sentença. Nesta Europa supostamente liderada por um senhor que pouco ou nada adianta  - o senhor Van Rompuy (pars Orientis) -  e uma baronesa que ninguém conhece ou que simplesmente foi obliterada pelo mediatismo da chanceler -  a senhora Catherine Margaret Ashton (pars Occidentis) - nada, mesmo nada nos permite repousar. De facto, faltam-os "políticos gordos", referências. Com se não bastasse, ainda ainda sobram figuras ainda menores, como é o caso do Sr. Barroso (o emigrante português mais envergonhado de o ser), ou o Sr. Martin Schulz. Que Europa é esta? 

Eu gostei do que a Isabel Jonet tentou transmitir, exceptuando 80% do que disse. Digamos que que a essência está correcta, mas a abordagem que utilizou foi quiçá ingénua.  Receio que os ataques que ela semeou por motu proprio, tenham uma final infeliz. Há uma passagem da Bíblia que recomendo a leitura, para todos aqueles que movidos pelo frenesim e o soundbyte causado pelas declarações da Jonet, queiram ou pretendam atacar a obra do Banco Alimentar Contra a Fome ou mesmo a Cáritas:

“Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa.” (Mt 6, 2)
Quando vi o Sr. Passos a convidar o Sr. Seguro para um chá dançante, em que o tema era o corte já estabelecido de 4000 M€ acordado no road map definido na 5ª avaliação, senti uma espécie de aperto na gargantilha. Assemelha-se um pouco aqueles casamentos pré-agendados em que a noiva vai ter que se abrir mesmo contra vontade. Há convites mais envenenados. Depois de meses a fio em que toda a oposição foi ignorada, os parceiros sociais subalternizados, e numa altura de visível ausência de autoridade política, talvez seja demasiado tarde para lançar uma tábua de salvação neste bote de náufragos. O mal está feito, e é incrível que nem o próprio ministro da Fazenda acredite no Orçamento que apresenta.

Relativamente à constitucionalidade do OE2013 não me vou pronunciar antes de o analisar. Não sou pressionável e quando lavo os dentes fecho a torneira.

Nota de rodapé: A Isabel Jonet disse que viu nas ruas de Atenas aquilo que ainda não tinha visto em Portugal. Pois bem, convido-a a sair do gabinete e ver o país como os próprios olhos....

01/11/2012

...mortal combat




Nunca a palavra refundar teve tanto holofote e motivou tanta preocupação. Provavelmente é uma daquelas palavras do dicionário que estariam à partida condenadas ao esquecimento, mas de repente, saltaram para a ribalta dos processadores de texto. Julgo que na minha curta existência enquanto cozinheiro de letras & ideias, nunca me tinha passado pela imaginação, escrever uma frase que fosse sobre conceito tão vasto e tão vago. Mas como o outro disse um dia, “..é uma oportunidade para mudar de vida”.

A princípio não liguei muito ao conceito em si “refundar o memorando de entendimento com a troika”, e cai na tentação de presumir que os doutos que se sentam na cadeira do poder iriam emendar o erro colossal em que insistiram no último ano. Mas não. Num país, onde os deputados da Nação saem sobre escolta policial do púlpito máximo da democracia, em que o poder de mobilização de quem Governa, é escasso ou nulo. Já não há nada a temer, já não há nada que esperar.

Durante anos, fomos bombardeados com uma cantilena de nutricionista arvorando pretensa gorduras do Estado que seriam eliminadas, reformas estruturais que mais não fizeram senão destruturar ainda mais o Estado e o país.

Esta fábula das reuniões, dos apelos ao PS (antes carrasco da Nação, agora travestido de salvador-mor da pátria) para um entendimento alargado faz-me recordar aqueles casos de violência doméstica, em que a mulher depois de anos de porrada do marido, volta aos seus braços, até à próxima nódoa negra.

Chegamos ao zénite da questão: chegou o momento de ver qual a fibra que a uns demove e os outros oprime. Até agora foram flores, a partir de agora começa uma luta sem quartel. Depois disto, nada será como dantes. Uns ficarão pelo caminho, outros nem chegarão a vê-lo. Chegou a hora de ver se o povo é sereno.

Por aqui ficamos atentos ao desenrolar da estória do melhor povo do mundo…enquanto não mudamos de vida.

15/09/2012

...massa folhada & doce d'ovos


…hoje devo ter acordado com algum Borges, tudo me lembra Borges (não confundir como o Borges & Irmão, esse ilustre banco). Comecei o dia á espera que o velho das bolas de Berlim acabasse o telefonema logo no momento exacto que escolhia entre uma bola com creme ou simples. É quase com escolher entre pedir um pastel sem a nata. Ao folhear (ou melhor tentar!) as páginas do jornal perante a adversidade da brisa matinal, tudo me lembrava Borges e RTP. As folhas sucediam-se e lá estava ele, na personagem de 13º apóstolo do capitalismo cruel, 8º anão da Branca de Neve, o querido Consultor, o homem da máscara de ferro, eu sei lá como classificar bizarra personagem.
O Borges acredita fielmente que as empresas públicas são mal geridas. Ele estruturou um mundo privado, onde o público é uma aberração. Quem está a mais é despedido. Quem gere mal é exonerado, privatizado, desprezado. Não sei o que o Borges pensa sobre o assunto, mas tenho a certeza que se ele acreditasse mesmo na doutrina que o persegue, já tinha demitido o seu patrão.
O Relvas é um tipo inteligente. Foi para o recanto mais longínquo onde os feixes hertezianos demoram uma eternidade a chegar, logo na altura em que o Borges se sentou no sofá e começou a explicar a visão do patrão. Ouvi que os chineses pensam colocar um homem na lua nos próximos tempos. Pode não ser tão confortável como estar alojado no ritz de Díli, mas pelo menos lá [na Lua] não há cartazes na rua. 
Como eu te compreendo Passos. Mas histeria seria se, em vez da Judite Sousa a entrevistar o Borges aparecesse um Goucha ou quem sabe uma Fátima Lopes. Histeria é entregar o serviço público a um privado e continuar a pagar a taxa de televisão na factura da EDP. Para além de histeria, seria fazer o Zé e da Maria, uns idiotas completos.
Continuando na mesma senda ideológica, ainda não reflecti no novo ordenamento do ensino proposto pelo beato Crato, ilustre matemático. A teoria da irracionalidade do chumbo, fez-me recuar uns anos largos ao tempo em que entrava de manhã e sai da parte da tarde sem ver meninas de saia, pelo singular motivo de ser imoral e perturbador da atenção, ter umas saias lado a lado na sala de aula. Querem saber a minha opinião? Esta experiência do amigo Crato de concentrar alunos em latas de sardinha para diminuir o número de professores, de acabar com os sorrisos de crianças nas aldeias e coloca-las a quilómetros de casa em mega escolas que depois não têm orçamento para as manter é um erro colossal. Tem o aroma a estalinismo puro ao concentrar os alunos em autênticas fazendas Sovkhoz, com uma estranha redução ao ao fascismo primário do “porque tem que ser”.
Há alturas marcantes que figuram nos manuais de História. O dia 7 de Setembro de 2012, vai constar dos índices como o dia em que Portugal acordou do longo sono induzido pela irrealidade socialista e o desprezo social do liberalismo selvagem deste actual elenco governativo. Mas vamos por partes.

Como o Miguel Sousa Tavares disse e muito bem, todos tínhamos uma ideia que o Passos era a pessoa mais séria do mundo e que tinha uma coragem e uma frontalidade ímpares. Ficamos a saber que afinal, como bom político que é, também mente descaradamente e vive num mundo que não é o que pisamos. Apesar da sua coragem, de andar de Opel Corsa, morar em Massamá e ser capaz de imolar a fome com uma sandes de queijo, cometeu a iniquidade de pensar que os Portugueses são como os pastéis de nata do seu amigo Álvaro, comem-se em duas dentadas, e são, óptimos para exportar.

Não contente por espoliar os funcionários públicos de dois subsídios, agora sob pretexto da decisão do Tribunal Constitucional, decide que todos somos pastéis de nata descartáveis e que pelo contrário, o dito Capital deve manter-se como o Pastel de Belém. Contrariando toda a ideologia económica e ao arrepio da social-democracia que diz ser paladino, toca a extorquir ao trabalho (malus) e granjear o capital o bónus. Numa penada, o mero contribuinte, a sua família, os seus filhos e restante massa folhada com creme d’ovo, passam a ser os únicos e presumidos culpados da inoperância e descontrolo financeiro do Governo. É a inversão total da lógica política no seu zénite. Eu presumo que com esta experiência social do amigo Gaspar, [que os amigos da Troika aplaudiram como sendo uma solução ardilosa] seria capaz de juntar Marx e Keynes na manifestação de logo à tarde. Vistas as coisas, não somos pastéis de nata, somos meros ratos de laboratório.

Não vou aqui anunciar o coro de insultos, enumerar as vozes dissonantes dentro dos partidos que “apoiam” esta maioria governativa e os de fora, mas uma coisa posso afirmar. Nunca se viu tanta unanimidade neste país como agora, talvez exceptuando o 25 de Abril, os jogos da Selecção Nacional sem o Ronaldo e os últimos dias de Timor ocupado.

Relativamente ao amigo Portas: Há silêncios que são ouro, outros são simplesmente demolidores. Certamente já reparou que uma simples conferência de imprensa do seu amigo Passos, acabou de vez com a ideologia e os princípios que defende. E não é o argumento do patriotismo bacoco, ou necessidade de ouvir o Conselho Nacional, O Partido ou o dono da pastelaria que lhe vai permitir explicar aos seus correligionários que esta é de facto a via democrata cristã que fundamenta a existência do seu partido.

Aproveitando a ideia do amigo Álvaro que a indústria mineira será o pilar da recuperação da nossa Jangada de Pedra, lanço-lhe um desafio, abra um buraco na rocha mais dura que encontrar e enfie-se no buraco que alimentou. Em opção continue a encher o cartão da TAP com milhas como faz o Dr. Relvas.

Logo vou à manifestação sem preconceitos ou ideias mágicas para resolver o problema. Não tenho uma bola de cristal, mas sei distinguir perfeitamente entre um político sério e honrado de um simples ladrão. E é isso mesmo que se passa hoje em dia. Penso que tal como o amigo Crato define os alunos que simplesmente não têm jeito para a escola, talvez não fosse má ideia colocar alguns senhores deste Governo no ensino profissional. Temos óptimos candidatos a canalizadores, picheleiros e algumas cabeleireiras.

Mas enquanto o circo prossegue até chegar a Janeiro altura em que começamos a ver o alcance do saque, deixo ao amigo Passos duas notas: 7 de Outubro (Porto-Sporting), 9 de Dezembro (Sporting Benfica). Duas datas excelentes e recomendáveis para se dirigir ao País, uns minutos antes de cada jogo e anunciar aos pastéis de nata que :

 - O dinheiro que nos vai roubar vai ser desviado para assegurar a nossa reforma e um Portugal mais justo;
- Vai começar a cortar efectivamente nas despesas do Estado e não andar a “fazer cócegas” aos Pastéis de Belém;
 - Vais fiscalizar se o dinheiro da descida da TSU vai servir efectivamente para combater o desemprego ou se vai ter como destino os dividendos dos accionistas;
- Vai tributar as mais-valias em bolsa o dinheiro desviado e não declarado para paraísos fiscais e outros dividendos com a mesma agressividade fiscal como nos vai ROUBAR;
- Vai cortar com todos aqueles subsídios estúpidos do Estado que ninguém entende?
- Vai resolver de uma vez por todas todos aqueles empregados que chegam picam no ponto e nada mais
 - Vai terminar com os abonos às supostas eventuais fundações que ninguém entende a utilidade;
 - Vai resolver de uma vez por todas a negociata das PPP, mas sem os mesmos escritórios de advogados que prepararam os contractos iniciais (sugiro por exemplo o FMI como auditor; já que gostam de cortar!):
  - Vai cortar efectivamente nas PPP porque também tem o descaramento e cortar em quem vive de um salário de miséria e não tem luxos;
 - Vai diminuir os assessores, secretários, carros de luxo em tudo o que é aparelho do Estado, (uma verdadeira aberração em qualquer país que se preze);
- Vai reduzir o número de deputados que é inapelavelmente desmesurado tendo presente com o tamanho e população portuguesa.

Só assim, talvez consiga fechar aos olhos ao facto de aumentar 60% na minha contribuição para a Segurança Social e o mais que há de vir da actualização do IRS e perda de benefícios fiscais, que vão fazer com que o meu orçamento familiar regrida uma década. A tal década perdida.

Mas por favor. Fale com o Portas e telefone ao Seguro com o mínimo de duas horas antes de aparecer no Palácio de São Bento com o microfone ligado.

Deste seu estimado Pastel de Nata

PS: entrevistas em casa saem caro ao erário público, e todos sabemos como o Dr. Relvas e o amigo Borges não gostam de desperdícios!