07/11/2009

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(imagem: não faço a mínima ideia, mas por via das dúvidas press here)

…a decisão do Cour Européenne des Droits de L´Homme no caso Lautsi v. Itália é um exercício teológico tão complicado como discutir a adequabilidade de chamar pão de deus a um pão-de-leite com coco e açúcar de pasteleiro, já para não referir os já citados aqui papos de anjo.

As ondas de choque que por todo o lado se começam agora a sentir, são o carburante para uma discussão exoenergética que incendeia crentes e não crentes. Séculos após criação no nosso Portugal da então Santa Inquisiçam que má memória e menos saudade aqui deixou nos livros da nossa história, novas formas de radicalismo pungente, ameaçam todos aqueles que cometem o pecado original de acreditar em algo.

Ser-se religioso é anti-democrático, motivo de escárnio e provoca urticária a quem, no seu pleno direito, em nada acredita ou acredita em algo que não necessariamente igual. Equação de dificíl resolução.

OK! extreminem-se os crucifixos das salas de aula.

Com que argumento?

Seilá!?! é contra os princípios e fere a vista às crianças! Para além disso pode induzir a um menor aproveitamento escolar, ou então, quem sabe, é pior do que um telemóvel tocar enquanto o professor dá a aula. Muito pior!
O legislador agora requer apenas a votação de meia dúzia de indigentes, uns pozinhos de modernidade democrática e um cheirinho de bloco de esquerda e já está. Para não influenciar as criancinhas que tremem na sala de aula com receio do cristo papão, mandem-se retirar todos os símbolos religiosos da sala de aula [como se houvessem muitos!!],e já agora [voltando um pouco atrás no início da anterior legislatura!] proíba-se a presença de membros da hierarquia religiosa das cerimónias oficiais. Só casamentos, baptizados e funerais. Ah! Fui agora informado que isso essa foi das primeiras medidas profiláticas do anterior Governo, o mesmo que o actual mas com a cor do balde diferente.

Eu diria mais, dinamite-se o Cristo Rei em Almada e construa-se uma ampla superfície comercial com cinemas, espaços jardinados e amplo parque de estacionamento. Acaba-se logo de uma vez com o maior deles todos.
Mas isto não devia ficar por aqui. Voltando ao assunto gastronómico, deve ser criada uma Comissão parlamentar para alterar toda a gastronomia típica portuguesa, com especial ênfase na doçaria conventual e banir todas as referências religiosas, mesmo que subliminares. Afinal de contas, depois a intenção deliberada e anedótica de proibir os desportistas, mormente os jogadores de futebol, de manifestarem ao seu regozijo por intermédio de gestos com teor religioso, já tudo é possível neste país de brandos e jacobinos costumes.

Mas a questão fundamental não é esta. A liberdade religiosa deve assentar, na minha infinita e singela opinião, no facto de a vontade da maioria não poder nem deve restringir a liberdade daqueles que professam outra religião, ou mesmo nenhuma. O nosso Estado é desde o 25 de Abril, se não me falha a memória ou a certeza histórica, um Estado laico. E com Estado laico entenda-se a separação entre o Estado e a Igreja.

A César o que é de César.

Contudo, e embebido do sentido ecuménico, que é uma coisa muito se aborda mas ainda não descobri onde se transacciona, penso que cabe ao estabelecimento de ensino, decidir pela retirada ou não de quaisquer símbolos que possam ir contra a opinião professa de alguém. Deve o Estado intervir com brigadas anti-religiosas e depurar à força todas as salas de aula que não respeitem a pretensa laicidade do Estado?

Deve ser proibido por exemplo às mulheres que professam o islamismo de utilizar o vestuário adequado à sua religião, como sucede em França?! Penso que não. Por exemplo, com que direito procura o governo suíço impor um Estado asséptico onde seja proibido construir minaretes? Ou em países como a Arábia em que por tudo e por nada os direitos das mulheres são simplesmente ignorados e a liberdade religiosa é palavra morta?

Nem 8 nem 80.

Preocupa-me sim, o facto de existirem escolas que vendem alimentos que nada contribuem para a saúde alimentar dos nossos filhos, escolas em que não há segurança nem respeito? Isso sim preocupa-me. Se querem retirar os crucifixos, tirem à vontade, mas de caminho, eliminem a Coca-Cola e toda a comida de plástico que aparentemente seduz mais e é mais maléfica, do que um simples crucifixo, que de mal nada tem e que se saiba, ainda não causou nenhuma doença.

Como diria o grande António Silva no filme o Leão da Estrela…Ora abóbora!

E já agora, o que fazer com as abóboras do Halloween? também são proibidas? Se é assim então acabe-se como Natal, acabe-se com o dia 8 de Dezembro, com a Páscoa, e todos os feriados religiosos. Afinal se o Estado é laico, então que nos laicize integralmente.

Qual será o próximo passo? proibir aglomeações de pessoas em redor das igrejas? proíbir a utilização de crucifixos pendurados no espelho dos carros? Se este é o caminho então atente-se ao que o regime nazi fez aos judeus e o regime comunista fez aos judeus e aos cristãos ortodoxos. Triste comparação, dirá o gentio leitor. Ipso facto.

Press release do processo no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.


2 comentários:

Sofia Carvalho disse...

..já tudo é possível neste país de brandos e jacobinos costumes...

...O nosso Estado é desde o 25 de Abril, se não me falha a memória ou a certeza histórica, um Estado laico. E com Estado laico entenda-se a separação entre o Estado e a Igreja...(acho que a maior parte da população portuguesa ainda não comprendeu muito bem o que isso quer dizer)


...Preocupa-me sim, o facto de existirem escolas que vendem alimentos que nada contribuem para a saúde alimentar dos nossos filhos, escolas em que não há segurança nem respeito? Isso sim preocupa-me..

E já agora, o que fazer com as abóboras do Halloween? também são proibidas? Se é assim então acabe-se como Natal, acabe-se com o dia 8 de Dezembro, com a Páscoa, e todos os feriados religiosos. Afinal se o Estado é laico, então que nos laicize integralmente...
Porra, ovo estrelado, não me deixas-te nada mais nada para dizer. Argumentas-te tão bem, que melhor impossível!

João Hartley disse...

Se acrescentares uma estrela de David, e algo alusivo a Alá (o qual não tem representação), mais um Buda, e, não esquecendo, a Santa Águia Vitória...Então sim, podemos ter todos contentes nas salas de aulas. Ou pelo menos comem todos pela mesma medida