13/01/2009

...o vento que passa


A mulher é um catavento,
Vai ao vento,
Vai ao vento que soprar;
Como vai também ao vento
Turbulento,
Turbulento e incerto o mar.

Sopra o sul: a ventoinha
Volta azinha,
Volta azinha para o sul;
Vem taful; a cabecinha
Volta azinha,
Volta azinha ao meu taful.

Quem lhe puser confiança,
De esperança,
De esperança mal está;
Nem desta sorte a esperança
Confiança,
Confiança nos dará.

Valera o mesmo na areia
Rija ameia,
Rija ameia construir;
Chega o mar a vai a ameia
Com a areia,
Com a areia confundir.

Ouço dizer de umas fadas
Que abraçadas,
Que abraçadas como irmãs
Caçam almas descuidadas...
Ah que fadas!
Ah que fadas tão vilãs!

Pois, como essas das baladas,
Umas fadas,
Umas fadas dentre nós,
Caçam, como nas baladas;
E são fadas,
E são fadas de alma e voz.

É que — como o catavento,
Vão ao vento,
Vão ao vento que lhes der;
Cedem três coisas ao vento:
Catavento,
Catavento, água e mulher.


Machado de Assis, in 'Crisálidas'

2 comentários:

Nasci Maria disse...

Não gostei apenas de uma coisa, ndizes quem escreve e não dizes onde é essa bela foto que aí tens. Tás-me a sair um limiano!!!!!

E a propaganda para dar de comer à terrinha ah?!

O ovo estrelado disse...

...quem escreveu: Machado de Assis, a foto foi do jardim que venceu este ano o Festival Internacional de Jardins em Ponte de Lima....que este ano de 2009
http://www.festivaldejardins.cm-pontedelima.pt