02/01/2009

...que rumo?

“Portugal tem de despachar-se” e assim começa uma entrevista que li recentemente de um Comissário Europeu. Pura verdade! Nestes dias de estagnação económica se nada for concretizado, poderemos enveredar rumo a um destino desconhecido. Uma das soluções passa pelo incremento da iniciativa do Estado, a alavanca do desenvolvimento económico nesta época de tempestade. Eis o momento - talvez um dos raros – que a iniciativa estatal deve dar abrir a valsa.
E por falar em valsas, não posso deixar de agradecer à RTP a transmissão do fabuloso Concerto de Ano Novo brilhantemente dirigido pelo Maestro Daniel Barenboim . Na retina fica a interpretação da Sinfonia nº 45 em Fa # menor.

Mas voltando à partitura inicial, esse caminho também passa pelo incremento pelo esforço de internacionalização das empresas, sobretudo das PME. Questiono-me se os recentes apoios ao sector automóvel não passam de simples operações de maquilhagem e seguidismo do que pior se faz lá fora; sem efeito visível pelo menos por cá. Afinal de contas, tirando o caso da AutoEuropa qual é o peso deste sector na nossa economia. Não seria mais acertado apoiar antes as PME, os verdadeiros estandartes da nossa economia e principais empregadores!? No meu entender faz mais sentido apoiar a modernização e capacidade de exportação de bens e serviços, mas confesso e que em matéria macroeconómica não passo de um leigo.

O ano que agora se inicia começa sob o signo do pessimismo ao nível económico e social. O alerta parte dos mais diversos quadrantes com especial ênfase para as inéditas comunicações dos últimos presidentes da república. Destas retive as visões apocalípticas do Dr. MSoares, os quais apesar de algum exagero no conteúdo, devem ser alvo de alguma reflexão por parte do elenco governativo. Aliás, os recentes acontecimentos na Grécia, deviam ser o bom motivo para alterar o rumo de algumas políticas no nosso país. Aquilo que começou por ser um revolta levada a cabo por fracções anarquistas com o argumento da morte de um jovem, depressa se alastrou a um conjunto mais alargado de jovens que estão simplesmente a ventilar a sua raiva contra um sistema polarizado na cultura do sucesso e do consumo, que não lhes oferece qualquer perspectiva de futuro. Pergunto-me, e por cá? Como diria o economista João César das Neves para estalar uma crise como a grega é preciso haver um “descontentamento endémico”, sendo que em Portugal há apenas “desânimo endémico”, sem força e ideologia definida.

Mas felizmente temos um Governo que no inunda com promessas de modernidade sob a forma de um computador azul chamado Magalhães, que aprova uma legislação laboral aberrante que nem a direita mais liberal algum dia teve a ousadia de legislar, que deixou inundar as universidades de “cogumelos” mascarados de cursos e que agora assiste à rotura financeira das universidades. Um Governo que não investe na qualidade e na exigência na escola pública, que não permeia o esforço dos professores, mas antes reprime e atormenta sobretudo todos aqueles que estão em inicio de carreira. Um Governo que fomenta o facilitismo na educação, e que permeia a mediocridade dos lambe-botas nos diversos sectores da sua dependência, um Governo que torna milhares de jovens dependentes das esmolas dos recibos verdes ou de salários e contratos a prazo de alguns meses. É o espectáculo circense da ilusão, ou talvez o Carnaval total.

O actual Presidente da República, na sua tradicional comunicação ao país alerta para o que aí vem e para as dificuldades dos que “sofrem em silêncio”. Mas desta feita, teve o condão de tocar na ferida, sem rodriguinhos nem jogos de palavras: “as ilusões pagam-se caras”, dixit.

Em boa verdade somos um pais de mansos, mas nem sempre foi assim. Já o provamos no Maio de 1969 e em Abril de 1974. Mas o que realmente necessitamos neste momento não é de uma revolução, necessitamos sim de uma mudança de rumo. A questão que permanece é saber quem de entre nós terá a capacidade de definir esse rumo. Infelizmente os rostos que se perfilam não auguram nada de bom. Existe um nítido défice de seriedade na nossa classe política. Mas uma coisa é certa, 2009 revela-se como a grande oportunidade para através das urnas podermos dar uma bofetada de luva branca a alguns figurões que por aqui andam.

Utilizando as proféticas palavras do Dr. Mário Soares (e hoje já é a segunda vez que o cito) “o Povo Português tem um enorme bom senso e muita experiência acumulada” (...) que lhe faz escolher, normalmente bem, as opções a seguir, em especial nos momentos decisivos”. O repto que aqui deixo na aurora deste novo ano, é tentar pela “arma do voto”, dar um rumo novo ao” status quo”.

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